sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Blue Mountains

Tenho sentido que esse blog tem estado muito político ultimamente... rs É difícil não falar sobre o assunto, pra ser sincera, devido ao grande impacto que ele tem na vida cotidiana.

Mas vou dar uma pausa pra falar em alguns posts sobre os passeios/programas que fizemos nesse verão.

(Verão é maneira de dizer, claro, pois ainda não fui a praia uma única vez! Quando está quente ou é dia de semana ou está ventando horrivelmente (maldito vórtex que tem sobre Sydney!), o que inviabiliza uma ida a praia. Quer dizer, pelo menos para os meus padrões de carioca. rs)

Ainda em dezembro fizemos um passeio para Blue Mountais, nossa segunda vez lá na verdade (a primeira vez está aqui), mas dessa vez levamos a família do Thiago que estava aqui passando férias. Fomos e voltamos no mesmo dia, o que é plenamente possível por serem apenas 2 horas de viagem, mas ficou mais cansativo por termos decidido visitar as cavernas – Jenolan Caves – que ficam a mais 1:30 de viagem.

Ao chegarmos nas cavernas estava lotado! Ficamos um tempão pra conseguir parar o carro. E acabamos descobrindo que pra fazer os passeios guiados por elas tem que reservar com antecedência (nesse site aqui). Até tinha um ou outro passeio disponível, mas são passeios com pelo menos 1 hora de caminhada e minha sogra é ferrenha adepta do sedentarismo...rs Então ficamos de voltar lá com calma, dessa vez só eu e Thiago, para fazer os tours.

Vamos as fotos:


Primeiro paramos em Leura, uma das cidades da região, para tomar café da manhã.









Essa última foto eu fiz questão de tirar com o cara atrás que era simplesmente um dos melhores cantores de rua que eu já vi! Tinha uma voz bem parecida com a do Don McLean (pra quem não está ligando o nome a pessoa, basta assistir esse vídeo de uma de suas músicas mais famosas)


Depois fomos para as cavernas, e o pouco que vimos já era sensacional, imagino o passeio mais detalhado do tour...








Por último paramos no clássico mirante de Blue Mountains para tirar a também clássica foto das Three Sisters.






Dicas pra quem for lá: (i) dá pra ir de trem saindo de Sydney; (ii) mesmo que seja no verão, sempre leve um casaquinho pois a temperatura costuma ser mais baixa que em Sydney (como uma ida a serra, para os cariocas que lêem esse blog. rs); (iii) não precisa de maiores informações pra chegar lá além do Google Maps (o salvador da pátria!), mas em alguns pontos o sinal não pega então é bom salvar os mapas com antecedência. Se bem que nós não fizemos e mesmo assim nos encontramos, é tudo muito bem sinalizado; (iv) da primeira vez que eu fui fiz o passeio de teleférico, o bem turistão mesmo. Sinceramente acho desnecessário, paga-se caro e não acho que valha a pena. A vista das Three Sisters vc consegue ter de graça nesse mirante que fui, e tem muitas trilhas pela região bem mais interessantes que as do tal passeio.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Carta de parlamentares

Outro dia eu me peguei surpreendida por mais uma situação que me ocorreu aqui.

Eu sou, como sempre fui, ferrenha defensora dos direitos humanos de todos, sendo minoria ou não. Dentre outros itens de flagrante violação dos direitos individuais está a proibição de casamento entre pessoas do mesmo sexo na maioria dos países do mundo. Não entra na minha cabeça como existem pessoas que podem ser contra isso. Eu até entendo quem é contra o aborto (não concordo, mas acho que ainda pode ser considerado válido o argumento de que ser contra o aborto é defender o direito de uma vida ainda no útero da mãe). Agora, ser contra o casamento gay não entra na minha cabeça... Não se está afetando nenhuma terceira parte (como a argumentação do aborto), e não faz o mínimo sentido as argumentações de “defesa da família tradicional” e "comportamento desviante".

Enfim, mas nem vou entrar nessa discussão pois não é o propósito do blog. Só comecei com esse assunto pra explicar que, defendendo essa minha posição, assinei uma petição online há umas semanas atrás em defesa da lei aprovada no ACT (Australian Capital Territory, um dos estados australianos pra quem não sabe). Essa lei durou pouco e já foi derrubada pela Suprema Corte da Austrália sob o fundamento que é inconstitucional pois viola uma lei federal, o Marriage Act 1961 (Cth). Essa lei federal é algo parecido com o que ocorre no Brasil, onde a Constituição Federal define casamento como uma união entre um homem e uma mulher, e com base nisso o casamento gay não é permitido.

Pois bem, assinei essa petição online, onde vc coloca seu nome, endereço e tal, e no site onde assinei (se nao me engano nesse aqui) eles diziam que isso seria levado aos membros do Parlamento. Mas nunca achei que eu receberia um feedback deles!

E não é que recebi? Mais de um até, vejam as cartas abaixo:



Tá, eles só reforçam a posição do governo de ser contra o casamento gay, mas dizem que vão levar a questão para voto entre os membros do Parlamento caso ela seja levantada novamente. O que duvido que seja, ao menos no governo do Tony Abbott (atual primeiro ministro), que é altamente religioso e já mais de uma vez demonstrou sua posição conservadora e contrária ao casamento gay.

De todo modo me surpreendeu o feedback, ao menos passa uma impressão de que eles se importam com a opinião dos eleitores. E olha que nem eleitor aqui eu sou! rs

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Aviso aos leitores

Só um avisinho básico: esse não é um blog de política, nem um palanque para debates de política.

Não gostou do viés "socialista" dos meus posts? Muito simples: não acompanhe o blog, não leia, não perca seu tempo comentando. Porque eu não tenho a mínima paciência para essas discussões rasas de internet, nem vou mudar meus pontos de vista e conceitos com pseudo "lições" de política dadas nos comentários.

Caí no erro de responder um comentário desses, o que eu não faço pois como eu disse esse não é o local. Mas já voltei atrás e excluí todos os comentários sobre o assunto.

E sim, isso aqui é uma ditadura e quem manda sou eu (e o Thiago de vez em quando...rs). :)


P.S.: Os próximos posts serão mais lights e com fotos. Mas já adianto que vira e mexe vou falar de novo sobre assuntos sociais, primeiro porque o assunto sempre me interessou, segundo porque agora estudando community services tenho cada vez mais acesso ao funcionamento dos serviços sociais na Austrália e acho super interessante escrever esses temas. Quem não gostar, fique a vontade pra visitar outro blog, quem sabe o do Diogo Mainardi, do Reinaldo Azevedo, ou de qualquer outro neoliberal americano (redundância das redundâncias, eu sei...rs).

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Existe preconceito na Austrália?

Eu estou pra escrever esse post há séculos, mas nunca me decidia quanto a resposta ao título. Eu sempre achei que a Austrália era um país super aberto a imigrantes e que discriminação/racismo era quase inexistente (ou ao menos infinitamente menor do que se vê na Europa, por exemplo).

Hoje em dia penso um pouco diferente. Com a eleição do Tony Abbott como primeiro ministro no final do ano passado, a discussão sobre imigração se intensificou pois uma das propostas dele era reduzir a entrada de refugiados. Confesso que ainda não li o suficiente sobre as propostas de governo dele, mas me incomoda o fato dele ser de direita e ultra católico. Nada contra nenhuma religião, mas eu acho que o político tem que ser ateu quando estiver exercendo sua função pública, afinal o Estado é laico (ou deveria ser). Então me incomoda o discurso católico e conservador do Abbott misturado com políticas públicas.

Me incomoda também o fortalecimento dos partidos de direita, pois sempre bate aquele receio da radicalização fascista, que infelizmente é o que vem acontecendo em muitos países da Europa (hoje mesmo li esse ótimo texto escrito sobre um rapaz que mora na Franca – clique aqui pra ler).

Voltando ao preconceito na Austrália. Nunca me esqueço de quando ainda estava procurando emprego em escritório, conversando com uma professora do TAFE ela me disse: “ah, vc não vai ter dificuldade de achar algo não, por causa dos seus traços físicos” (querendo dizer, a pele branca e traços que podiam passar por “native australian”). Logo em seguida ela emendou um: “quer dizer, é triste reconhecer isso, mas infelizmente existe preconceito contra algumas nacionalidades”.

E sim, existe mesmo! Principalmente contra indianos e asiáticos (especialmente chineses). Outro dia mesmo alguém me disse que em muitas empresas currículos de pessoas com nome asiático ou indiano nem eram analisados. Tenho uma amiga coreana que também vira e mexe reclama de sofrer preconceito. Idem para um rapaz que conheci com nome Mohammed (e olha que ele nasceu na Austrália, mas a família é de descendência libanesa).

Outro ponto que me chama atenção são as recorrentes reportagens no jornal (como essa aqui) sobre atos discriminatórios contra imigrantes pela cidade. A maioria contra asiáticos, mas já ocorreram casos contra franceses também e com certeza com outras nacionalidades. Eu me lembro de algumas vezes, principalmente quando cheguei aqui, estar no ônibus tarde da noite e um grupo de adolescentes ficar zombando daqueles que não compreendiam o que eles diziam e não falavam um inglês fluente (inclusive eu).

O Thiago também já ouviu algumas vezes no trabalho dele comentários discriminatórios como os que exaltam os australianos “puros” (o que, aliás, é raríssimo por aqui, pois uma enorme porcentagens dos australianos tem descendência estrangeira. No escritório do Thiago mesmo não devem ter nem 5 “native australians”, o grosso dos funcionários é imigrante ou descendente direto de imigrantes).

Sempre achei isso um caso isolado, mas começo a perceber que é mais comum do que parece. Ainda mais se vc está em bairros mais segregacionistas, como o que estou agora. Em bairros onde a população de estrangeiros é maior, como Bondi, ou bairros de maioria árabe ou chinesa, claro que a aceitação é maior. Mas em bairros de “maioria australiana” já escutei histórias de crianças discriminadas na escola, por exemplo, se tem a pele mais escura ou ascendência asiática.

O fato é que enquanto vc anda só com brasileiros ou imigrantes fica difícil perceber o preconceito. Mas quando vc começa a se relacionar com australianos, começa a perceber essas pequenas coisas. Claro que não é no nível que ocorre em muitos países da Europa, e como eu disse as leis contra discriminação, racismo e qualquer tipo de preconceito são fortíssimas por aqui, mas isso não significa que no fundo os australianos não se ressintam da presença dos estrangeiros, que tomam postos importantes no mercado de trabalho e recebem benefícios sociais. Outro fato que tem gerado muito ressentimento é o mercado imobiliário estar sendo tomado por imigrantes asiáticos. Já ouvi muitos comentários discriminatórios quanto a isso, e quanto a necessidade de se frear a imigração asiática. O pior é ouvir isso até de brasileiros, que reclamam que “na Austrália só tem chinês” (o que, além de generalista com a população asiática, é extremamente discriminatório na minha opinião), reclamam de colombianos (como já comentei aqui), falam mal de indianos que tem um péssimo inglês (detalhe que os indianos são em sua maioria fluentes em inglês, o que eles tem é um forte sotaque, mas que brasileiro também não tem?). Aliás, me irrita profundamente ver um imigrante (seja brasileiro ou de qualquer outra nacionalidade) discriminando outro imigrante, generalizando culturas e taxando outras nacionalidades disso ou daquilo. É uma falta de empatia e bom senso tocante!

Outro ponto é que eu que sempre achei a Austrália menos machista que o Brasil, me surpreendi ontem ao ler uma reportagem sobre uma camisa feminina lançada pra comemoração do “Australian Day” onde se lê: “Property of na aussie boy” (propriedade de um rapaz australiano) e ver os comentários na reportagem dizendo que “a camisa não é sexista”, “se vc não se sente suficientemente conectado ao seu namorado pra usar essa camisa com orgulho, simplesmente não compre”, “quanto mimmimi por causa de uma simples camisa”, “banir a camisa seria uma violação a liberdade de expressão”, “todo mundo se ofende com tudo nos dias de hoje” e o clássico: “relaxem, é só uma piada!” (reportagem e comentários aqui).

É, parece que mesmo os países desenvolvidos não são tão desenvolvidos assim quanto se trata de direitos humanos das minorias... Triste esse mundo em que vivemos...

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

"O que o facebook não conta sobre viver no estrangeiro"

Estava eu lendo hoje um artigo no Sydney Morning Herald (na verdade o SMH remeteu a um artigo do The Vine, esse aqui) sobre australianos que vivem em outros países, cujo tema é “What Facebook photos don't tell you about living abroad” (o que o facebook não conta sobre viver no estrangeiro).

Curioso ler sobre australianos dizendo do que sentem falta da Austrália. Vou transcrever algumas respostas que achei interessantes e meu comentário em seguida:


I miss the diversity of the colourful Australian landscape and wildlife. I miss catching up with mates at “Sunday Sessions” at a local watering hole overlooking the most beautiful coastline in the world.
Then there’s the food: I miss a “real” Aussie meat pie. Thankfully, I was home for Christmas and had the chance to stock up on Vegemite, choc-chip muesli bars and “PK” chewing gum
.”

E eu achando que não havia comida típica na Austrália, e que vegemite é desgusting demais pra ser objeto de desejo de alguém. Silly me... rs Bom, gosto é gosto e não se discute, mas eu detesto meat pie e vegemite. E vamos ser francos: desde quando chiclete pode ser objeto de desejo culinário de alguém? haha


Family and friends and SUN! Also our style of food and eating in general. We eat a lot of fresh food. British food can be very carb heavy and stodgy.
I miss our live music scene. I still think we have some of the best music coming out of Australia.
I miss being able to chuck on some thongs and pop to the shop as opposed to putting on a jumper, coat, socks, boots and gloves just to get some milk.
I miss Australians as well. We're all so open and friendly and honest. Londoners keep to themselves and can be painfully polite which is very dry to me.
I miss the beach and getting a tan. I miss cold beers in hot air. I especially miss how well we are paid
.”

Australianos comem muita comida fresca??? Eles iam ficar loucos com o Brasil então... Eu ainda peno pra achar sucos naturais nos restaurantes e bares...
Concordo com ela quanto ao clima, realmente viver em Londres deve ser um saco nesse aspecto, e bem deprimente também. Pelo menos pra mim, tenho certeza que muita gente deve adorar (será? rs).
Agora, o que achei mais curioso foi ela dizer que os australianos são abertos e amigáveis. Ok, se comparar com ingleses pode ser, mas pros padrões brasileiros a Austrália é uma pedra de gelo social. Sim, eles são simpáticos, mas os relacionamentos são superficiais, pelo menos essa é uma reclamação recorrente que ouço de brasileiros por aqui: é difícil fazer amigos australianos.


One other thing that has been really tough is coming from earning extremely good wages in Australia to earning barely enough to get by on Canadian minimum wages.”

Jura? Eu sempre achei que era o contrário, que se ganhava mais no Canadá e que na Austrália os salários eram mais medianos (bons, mas medianos). Anyway, acho que isso depende muito da área de atuação, cidade onde se vive, e experiência local.


A Sunday arvo drink with my mates and family by the beach after swimming all day is what I miss most.”

De novo uma questão de parâmetro de comparação. Ok, claro que o verão australiano é infinitamente melhor que o canadense. Mas eu não consigo nadar na praia aqui, aliás entrar na água já é um suplício! Primeiro que não esquenta o suficiente (desculpem os do sul do Brasil, mas pra carioca abaixo de 30 graus é inverno. haha), segundo que está sempre ventando em Sydney (juro, tem vórtex em cima dessa cidade, só pode! rs), o que dificulta a ida a praia (esse verão não fui nem uma vez ainda...). Ah, como sinto falta do mar quentinho do Nordeste... Prefiro mil vezes me sentir numa canja do que água gelada.


The surf, my family, tanned Australian girls with good attitudes. New York is very fast-paced, a living breathing organism, so to speak.”

Sejamos francos: comparar Nova Iorque com Perth não é bem uma comparação justa... rs Se ainda fosse NY X Sydney ou NY X Melbourne...


When the cricket is on! No, but seriously I think the lingo can sometimes get you. I felt a bit daft when I first started work here as they would say all these abbreviated words. I had no idea what any of them were and I was a bit embarrassed to ask. I would go back to my laptop and Google them just so I would know for next time. I also would get a bit of shtick for the way I pronounced my words and had to change the way I said them so I wasn’t mocked (even though it was in jest). The hardest thing, however, is being so far away from your family.”

Viu, não importa se vc fala inglês e vai pra um país também de língua inglesa, ainda assim vão implicar com seu sotaque. :)


Essa é só uma das perguntas, vale a pena ler o artigo todo. Expatriados serão sempre expatriados. :)

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

"Da relação entre limpar seu próprio banheiro e abrir sem medo um Mac Book no ônibus"

Se trocar “Holanda” por “Australia”, esse texto retrata muito do que penso.

Vale a pena ler e refletir: http://www.ducsamsterdam.net/da-relacao-entre-limpar-proprio-banheiro-abrir-sem-medo-mac-book-onibus/.

Há uns dias atrás entrei numa discussão no grupo de brasileiros do facebook por causa de alguns comentários discriminatórios. Eu detesto entrar nessas discussões, em parte porque não tenho a menor paciência para pessoas estúpidas e ignorantes. Muito menos para machistas, misóginos, racistas, homofóbicos e afins.

A discussão em questão começou com um rapaz dizendo que estava prestes a ser mandado embora de seu trabalho de cleaner por conta de um colombiano que lhe sacaneou. Já começou errado ao individualizar a nacionalidade, pois se alguém lhe sacaneou no trabalho não foi porque era colombiano, indiano, argentino, ou a nacionalidade que seja. Tenho horror a essas generalizações. Mas daí vieram os comentários generalizando os colombianos, do tipo: “Nossa...experiência péssima com colombianos também. São uns coitados pq limpar chão é o trabalho da vida deles.” “E isso mesmo, eles pensam pequeno, pra eles trabalho de cleaner e suficiente, acho que isso e o maximo que eles conseguem pra vida deles.” “Pessoas egoístas e gananciosas. Vem muito colombiano papupérrimo que vende as cuecas pra trabalhar de cleaner em Sydney. Não falam nada de ingles e nem querem aprender.” “Nos desconfiamos que ele quer arrumar intrigas pra poder justamente por colombianos pra trabalhar la, e o que voce disse ne panela, eu agora odeio essa raça.” (tudo sic, claro)

Nesse momento algumas pessoas começaram a reclamar do cunho discriminatório dos comentários, inclusive eu, e começou o bate-boca, recheado de muitos erros de português, claro, e frases que sequer se consegue entender. Sim, porque pra algumas pessoas custa entender que se vc não consegue se expressar direito nem em português, fica difícil aprender outro idioma. Eu me policio bastante pra não ficar corrigindo os outros e passar pela chata implicante, mas que me dói a alma ler/ouvir gente assassinando o português, isso me dói...rs

Uma das meninas que comentou foi bem mais incisiva na revolta contra os comentários discriminatórios, e recebeu como resposta um “vc não tem roupa pra lavar em casa, não?” Sim, claro, porque a função da mulher é lavar roupa em casa, e não se meter em discussões ideológicas. Quando eu disse que esse comentário foi machista, claro que foi minha vez de ser atacada e o cidadão ainda escreve “não quis ser machista em momento algum (apesar de umas ai merecerem)”. Quer dizer, mulher que é atacada merece, afinal ela é mulher, esse ser inferior! Não vou nem entrar na questão do machismo na sociedade brasileira, pois isso daria outro post. Mas vale uma lida o texto do Gregorio Duvivier na coluna da Folha dessa semana.

Claro que a discussão no facebook não levou a lugar nenhum, e eu quase me arrependi de ter entrado nela. Mas as vezes penso que não dá pra ficar calado e se omitindo sempre que vir alguém sendo discriminatório. É pela omissão que o mundo continua tão problemático... Eu que sempre me considerei sem preconceitos, a cada dia abro mais minha mente ao conviver numa sociedade tão heterogenia quanto a australiana.

Voltando ao texto sobre igualdade social, isso é uma coisa que custa a muitos brasileiros entender. Mesmo os que vem pra cá e tem que trabalhar de cleaner, garçom, ajudante de obra, o fazem muitas vezes achando que aquele é um trabalho menor e temporário. Só que essa não é a mentalidade dos australianos. Qualquer trabalho é digno, muitos cleaners (nem vou falar de pedreiro, encanador, pois esses ganham muito melhor do que muito arquiteto, engenheiro, e qualquer outra profissão que demande uma faculdade mais longa) tem uma vida confortável e de classe média. O que sinto aqui é que mesmo os verdadeiramente ricos não esbanjam, é feio socialmente se mostrar superior ao outros. Chamar a sua faxineira de empregada (maid em inglês) é feio por denotar uma subserviência, e portanto inaceitável! Seu chefe dificilmente vai te dar uma ordem, ele sempre vai dizer: “vc pode por favor fazer tal coisa?”, mesmo que seja sua obrigação aquela tarefa e vc não esteja fazendo nenhum favor a ele.

Não estou dizendo com isso que a Austrália seja o paraíso e que aqui não exista machismo, discriminação e exploração. Claro que existe! O ser humano pode ser cruel e mesquinho, independente de sua nacionalidade ou raça. Mas aqui isso não é considerado natural, não é aceitável e quem comete tais atos é visto como a exceção a ser condenada social e legalmente, e não como a regra que já está tão entranhada na sociedade brasileira que chega a ser vista como normalidade.

Como eu já escrevi nesse blog mais de uma vez, o Brasil infelizmente não vai mudar enquanto os brasileiros não compreenderem o conceito básico de welfare e igualdade social.