quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Então é Natal


Espero que todos os leitores do blog tenham passado um ótimo Natal com suas famílias. Por aqui o Natal foi só com amigos esse ano, já que não tivemos visitas da família e nunca conseguimos viajar pro Brasil nessa época do ano por conta do preço das passagens (e do calor do Rio de Janeiro que eu não toleraria mais. rs).

 

Aqui na Austrália só é comemorado o dia 25 de Dezembro, dia do Natal, data em que as famílias se reúnem para um almoço, muitas vezes ao ar livres em parques. O feriado nacional é apenas no dia 25 e no dia 26 (Boxing Day). Como esse ano o dia 25 caiu num domingo, o feriado foi automaticamente transferido pro primeiro dia útil seguinte, ou seja, dia 27. O mesmo vai acontecer no réveillon, quando o feriado do dia 1 (domingo) será transferido para o dia 2.

Aqui as tradições do Natal são até certo ponto semelhantes ao Brasil, com árvore montada na sala, Papai Noel entregando presente pras crianças e tal. Só que aqui os presentes são entregues no dia 25 de manhã, já que não tem ceia no dia 24, e muitas família colocam no dia 24 junto com as crianças, antes delas dormirem, um prato com leite e biscoitos pro Papai Noel (Santa Claus em inglês) e um prato com cenouras pras renas. Eu e Thiago não somos religiosos e ainda não decidimos como vamos abordar o Natal com o Lucas. Quando ele crescer mais um pouco provavelmente vamos explicar sobre a base dessa celebração mundial, e o que ela significa pra nós (uma data em que reunimos a família e praticamos o desapego e a caridade, sem muito consumismo). Claro que vamos dar presente pro Lucas, mas sempre 1 só e aproveitando a data pra fazer uma limpa de desapego na casa e doar os brinquedos que ele não brinca mais. Tentei fazer esse ano um calendário do advento com a contagem regressiva do Natal e atividades diárias pro Lucas entender essa festividade, mas ele não pegou muito bem a coisa, acho que é muito novinho ainda daí vamos tentar de novo ano que vem. Além disso somos contra essa figura do Papai Noel, essa coisa de ameaçar criança de que tem que ser “boazinha” (pra começar que eu nem gosto desse termo “criança boazinha”) pra ganhar presente, enfim, vamos explicar a ele de onde surgiu o simbolismo do Papai Noel mas sem essa ligação de ganhar presente atrelado a bom comportamento porque não é o que praticamos em casa de uma forma geral (não aplicamos castigos, muito menos palmada, e acreditamos que educar é formar o caráter da criança através do entendimento do porquê uma atitude é errada – machuca outros ou a si próprio –, da prática da empatia e da construção do livre arbítrio desde bebe). Mas esse ano o Lucas ainda é pequeno demais pra esse tipo de conversa, então apenas reforçamos a data como um dia de reunir a família e amigos.

 

Como os brasileiros comemoram a véspera de Natal também, esse ano fomos convidados para uma festa com outros casais brasileiros no dia 24, que foi ótima. Muitas famílias juntas, muitas crianças, o Lucas se acabou de brincar. No dia 25 quando ele acordou demos o presente dele (uma cozinha da Ikea que ele amou – essa aqui) e fomos na casa de outro casal de amigos que tem um filho da idade do Lucas para um churrasco de Natal, com direito as crianças se esbaldando num banho de piscina no quintal.

 

É aquela coisa, quando não se tem família perto, os amigos se tornam nossa família, laços se estreitam mais rapidamente e é ótimo ver o Lucas crescendo com tantas crianças da idade dele, crianças que ele já reconhece como amigos, chama pelo nome, brinca junto. Temos feito com alguns casais de amigos “share care”, onde um casal cuida das 2 crianças por umas 4-5hrs enquanto o outro casal pode aproveitar pra fazer um passeio a dois. Nós ficamos com o filho de uns amigos semana retrasada, e ontem foi a vez deles ficarem com o Lucas, tendo eu e Thiago aproveitado pra ir no cinema, coisa que raramente fazemos por não ter família por perto pra ficar com o Lucas.

 

Essa semana está sendo de recesso pra quase todo mundo, pois tradicionalmente no período entre Natal e Ano Novo a maioria das empresas fecham e os funcionários tiram férias forçadas. É ótimo pois é uma época do ano que todas as famílias estão reunidas com as crianças, seja fazendo passeios ou viajando. Esse ano não viajamos, então estamos aproveitando pra ir com o Lucas pra muito parquinho, praia e piscina já que tem feito um calor atípico esse verão, com semanas seguidas de temperaturas entre 20-35 graus (o que é muito quente pros padrões de Sydney).

 

Meu escritório é um caso atípico e não fecha nesse período do ano, então hoje estou trabalhando enquanto o Thiago fica com o Lucas (as creches em sua maioria fecham também nessa semana entre Natal e Ano Novo). Mas hoje é o último dia de trabalho do ano e só retorno semana que vem (e espero que com posts mais frequentes para 2017). Então desejo a todos um Ano Novo repleto de realizações, com muito amor e paz (coisa que esse mundo está precisando urgentemente). :)

sábado, 24 de dezembro de 2016

Como é o dia-a-dia de trabalho como legal secretary/paralegal

Eu já fiz vários posts sobre minha carreira aqui, como foi difícil arrumar emprego na minha área, sobre como validar o diploma em direito, etc. Mas vira e mexe me perguntam como é de forma prática o trabalho de legal secretary/paralegal por isso resolvi escrever esse post.

Primeiro quero deixar claro que minha descrição é absolutamente pessoal, baseada na minha experiencia em apenas um escritório de advocacia, que é onde eu trabalho desde sempre aqui em Sydney. Meu escritório também é um pouco distinto porque não pratica direito australiano, apenas direito americano e tem como foco unicamente o mercado de capitais. Além disso meu escritório é pequeno, tem apenas 15 pessoas no total, então as funções não são muito especializadas. Com isso possivelmente as funções de um legal secretary/paralegal podem ser distintas em outros escritórios.

Eu fiquei 2 anos como legal secretary, entrei de licença maternidade e voltei há 1 ano e meio como paralegal.

Como legal secretary, minhas funções eram basicamente:

- lançar no sistema interno as horas de trabalho dos advogados (billable hours), ou seja, quantas horas o advogado demorou na atividade x no dia y para cada cliente/projeto que trabalhou. No fim do mês essas horas e a descrição correspondente são contabilizadas e o cliente recebe a fatura do escritório. Quem trabalha com direito consultivo no Brasil deve ter sistema parecido, no contencioso é que normalmente a cobrança é fixa por número de processo e não por horas trabalhadas;

- salvar docs que os advogados mandavam no sistema interno, imprimir/encadernar/tirar cópia/escanear docs, fazer edições nos docs (ou seja, adicionar comentários dos advogados, comparar docs, etc);

- fazer relatórios de horas trabalhadas num projeto, pra que os advogados fizessem uma checagem periódica do quanto estavam cobrando do cliente;

- atualizar os livros de jurisprudência/legislação com novos updates que a biblioteca da empresa em Hong Kong manda periodicamente;

- marcar voos/hotel para viagens de negócios dos advogados;

- preparar e enviar correspondência externa;

- preparar carta de auditoria;

- organizar a festa de fim de ano da empresa e demais comemorações internas;

- preparar cds de fechamento de um projeto, compilando documentos e material envolvido.

E outras mais que não me vêem a cabeça agora. Além disso, como o escritório é pequeno, sempre que ficávamos sem recepcionista eu tinha que cobrir também as funções da recepção (atender telefone, manter a comida limpa, cuidar do estoque de produtos e fazer pedido de novos produtos, etc) ou quando a office manager estava de férias eu cobria algumas das funções dela.

Cumulado a isso tudo, como os advogados sabiam da minha formação em direito, acabavam me dando também trabalhos mais jurídicos, por isso que quando eu voltei de licença maternidade troquei de cargo e voltei como paralegal. Como paralegal minha hora passou a ser billable (cobrada do cliente) e minhas funções se consolidaram como sendo primordialmente mais jurídicas como:

- fazer busca de precedentes para projetos;

- criar docs iniciais para os projetos, fazendo uma análise da empresa e do tipo de projeto envolvido;

- analisar balanços financeiros das empresas, assim como demais documentos para investidores e com base neles atualizar documentos do projeto;

- atualizar a planilha de taxa de cambio e as diversas fórmulas que criamos como média/mínima/máxima do período fiscal, etc;

- cuidar da database de marketing interna da empresa, e das diversas planilhas internas de projetos que temos;

- criar e atualizar pastas internas de casos precedentes;

- auxiliar os advogados de uma forma geral nos projetos.

Além disso ainda cumulo funções de legal secretary quando estamos sem uma, ou se o volume de trabalho está pesado.

O volume de trabalho varia muito durante o ano no escritório onde trabalho, seguindo mesmo o mercado financeiro, mas de um modo geral apenas os advogados são demandados a trabalhar por longas horas. Eu até já fiz bastante hora extra, já trabalhei 12hrs ou mais seguidas, mas pra mim é sempre opcional: se o volume de trabalho está pesado as vezes me pedem e se eu posso eu fico até mais tarde. Mas se eu não posso porque tenho que pegar o Lucas na creche, ou se ele está doente, é absolutamente ok dizer que eu não posso e sair as 5:30 da tarde no meu horário normal. Não é assim na maioria dos escritórios, acredito eu, principalmente para paralegals que muitas vezes trabalham longas horas tanto quanto os advogados. Isso é um pouco o que pesa na minha decisão de não validar meu diploma aqui. Porque uma vez advogada aqui eu não conseguiria ter a flexibilidade que tenho de trabalhar de 8:30-5 e apenas 3 vezes por semana. Por outro lado eu fico meio engessada no meu cargo e no escritório em que trabalho no sentido de não conseguir pegar novos desafios. Mas tudo na vida é uma questão de escolhas, né? Atualmente eu estou em paz com as minhas, quem sabe daqui a 5-10 anos eu não pense diferente e escolha outro caminho. :)

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Escolas em Sydney


Eu já falei aqui no blog sobre como funcionam as creches, e se nunca falei sobre escolas é porque o Lucas está longe de ir pra uma e eu ainda não comecei a pesquisar sobre o assunto.


Mas como a Jaqueline me pediu pra falar sobre escolas, e com o que já ouvi falar de amigas, vou tentar escrever algumas linhas gerais sobre o assunto.

A educação na Austrália é pública como regra, mas existem escolas particulares. Dentre as particulares elas podem ser mais construtivistas (como as que seguem a metodologia Montessori ou Waldorf), ter uma base religiosa (católicas ou protestantes), podem ser separadas por género (só de meninos ou só de meninas ou mistas), etc.




(OBS: A educação só é pública para residentes e cidadãos. Qualquer outro tipo de visto não tem direito as escolas do governo gratuitamente, tendo que pagar uma taxa que gira em torno de AUD$5.000 – mais informações aqui: http://www.detinternational.nsw.edu.au/media-assets/trp/fees.pdf.)

Toda criança tem que estar matriculada numa escola quando completar 6 anos de idade. A idade mínima para ingressar na escola é 5 anos, mas crianças que façam aniversário até 31 de Julho podem começar na escola com 4 anos de meio (isso em NSW - em outros estados a data de corte é diferente). O primeiro ano escolar é chamado de Kindergarten (ou Kindy) e no site do governo de NSW tem bastante informação sobre o ingresso na escola. O kindy seria como a alfabetização no Brasil, seguido pelo Year 1 ao Year 6 (ensino primário) e Year 7 ao Year 12 (ensino secundário ou high school). 

Antes do kindy, crianças de 3 anos e meio ou 4 anos podem frequentar uma creche (daycare, sendo que todas tem uma preparação especial para a “big school” quando chega na turma de 3-5 anos) ou pre-school que são pré-escolas geridas pelo governo. A diferença é que a pré-school é bem mais barata que um daycare (porém do valor pago não incide o rebate de childcare que o Centrelink paga para residentes e cidadãos), e o horário é reduzido seguindo o horário escolar (9am a 3pm).

Falando em horário escolar, uma dúvida que me surgiu logo no início foi: se a escola funciona de 9am a 3pm e tem 2 semanas de férias a cada 2 meses, como fazem os pais que trabalham integral de 8-5? A resposta é: ou se contrata uma babá para o restante do dia, ou se matricula a criança num before/after care (chamado de Out of School Hours – OOSH) e vacation care, que cobrem o restante das horas a um custo em torno de $15-$18 por dia (maiores detalhes aqui).

As escolas públicas todas tem “catchment area”, ou seja, só aceitam alunos que morem num certo raio de distancia da escola. Então é muito comum as famílias escolherem onde vão morar baseado na escola daquele bairro ser boa ou ruim. Vc até pode aplicar pra uma escola pública de bairro diferente ao seu, mas entra numa lista de espera e só vai ser chamado se naquele ano letivo não tiver aluno suficiente do bairro para suprir as vagas. As escolas privadas não tem isso, mas ainda assim as pessoas costumam buscar escolas em subúrbios próximos de onde moram, primeiro pra que a criança não perca muito tempo em deslocamento todo dia, segundo para que os amiguinhos que fizer morem perto para se encontrarem nos fins de semana e férias.

O governo tem um site com o ranking de escolas por estado (públicas e privadas) baseado no desempenho escolar dos alunos. Para escolas privadas, tem um site muito bom com um guia de escolas e infos aqui.

A Jaqueline perguntou sobre escolas mais construtivistas. O que eu ouvi dizer é que a maioria das escolas públicas na Austrália são mais construtivistas e menos conteudistas de um modo geral, focando mais no desenvolvimento individual de cada aluno. Mas como eu disse não conheço detalhadamente esse assunto nem o currículo escolar, então não formulei uma opinião sobre isso.

Existem algumas escolas privadas que seguem métodos notoriamente construtivistas como Steiner (como a Glenaeon School) ou Montessori (no site Montessori Australia tem uma lista das escolas verdadeiramente Montessori. Fiz essa ressalva pois existe um daycare muito famoso aqui em Sydney, o Montessori Academy, que apesar de se intitular Montessori não segue efetivamente o método. Veja bem, não estou criticando o daycare, inclusive é esse daycare que o Lucas frequenta e eu adoro, mas pra quem conhece e já estudou o método como eu sabe que eles não são 100% Montessori – eles tem muito material Montessori, tem algumas educadoras qualificadas no método, mas não todas, e o dia a dia do daycare não é 100% Montessori apesar de incorporar algumas coisas do método). Há ainda outras escolas progressistas como a Kinma School mas eu nem tenho como listar todas porque como disse não conheço mais profundamente sobre isso. Eu gostaria muito que o Lucas estudasse numa escola progressista, mas não sei se financeiramente falando isso seria viável, primeiro pelo custo da escola em si e segundo porque a maioria dessas escolas ficam no norte de Sydney que são bairros por si só mais caros pra se morar. Meu sonho era que o Lucas fosse pra uma escola Montessori, mas já descartei pelo alto custo envolvido.

Eu ainda fico meio perdida no assunto escola, vejo amigas australianas falando com propriedade sobre as escolas boas e ruins e eu fico perdida porque não cresci aqui, não frequentei as escolas aqui. E é muito difícil filtrar opiniões sobre escolas porque depende muito do perfil da família, do que os pais querem pro filho. Enquanto algumas famílias fazem questão de ensino religioso, eu e Thiago achamos que religião e escola não podem se misturar. Enquanto pra algumas pessoas o principal é o conteúdo, é que a criança aprenda a ler e escrever o quanto antes, tire nota alta nas provas, etc, pra mim e Thiago o mais importante é o desenvolvimento de outras habilidades como o raciocínio crítico, a inteligência emocional, a criatividade, etc. Então o perfil da família vai influenciar diretamente na escolha da escola e consequentemente na opinião (que sempre é subjetiva) de se uma escola é boa ou ruim.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

É possível trazer remédios para a Austrália? Como fazer?

Essa é outra pergunta que eu recebo de vez em quando, e também é uma dúvida que sempre surge nos grupos de brasileiros no Facebook.

De acordo com o site da imigraçãoaustraliana, os medicamentos podem ser agrupados em 2 grupos:
 
- os que exigem uma licença para serem trazidos (não confundir licença com receita, a licença é uma autorização especial do governo australiano para entrada de certas substancias);

- os que não exigem licença.

“You do not need a permit to bring in most prescription medicines even if they contain a controlled substance, so long as:
  • you are arriving in Australia as a passenger on board a ship or aircraft
  • the medicine is carried in your accompanied baggage
  • you carry a letter or copy of your prescription (written in English) from your Doctor to certify that the medicine has been prescribed to you to treat a medical condition
  • the quantity of the medicine does not exceed three months' supply.
You should leave your medicine in its original packaging.
I.                   Examples
Prescription medicine
II.                Exceptions
Some medicines always require a permit. This includes steroids, products containing DHEA, yohimbine, thalidomide, fenticlor and triparanol. Import permits for these medicines are issued by the Therapeutic Goods Administration.
If you run out of medication, you will need to either see a Doctor in Australia to have the medicine prescribed and supplied in Australia (if it is available in Australia) or you will need to check whether you need to apply for a permit from Therapeutic Goods Administration before you arrange have medicine sent to you.”

No site do governo australiano tem também um vídeo bem explicadinho sobre como trazer medicamentos que diz basicamente que:
 
- medicamentos para colesterol alto, pressão alta, glicose alta e ácido gástrico são permitidos;

- pílula anticoncepcional é permitida;

- antibiótico é permitido;

- medicamentos para medir glicose são permitidos;

- medicamentos para ajudar a dormir (sedativos) são permitidos.

Todos os medicamentos listados acima devem ser para uso pessoal (ou de alguém sob seus cuidados), não podem ser doados ou vendidos para ninguém aqui na Austrália, devem estar na embalagem original (se possível), devem ser em quantidade suficiente para no máximo 3 meses e devem estar acompanhados de receita médica em inglês. Depois desses 3 meses vc deve obrigatoriamente procurar um GP aqui na Austrália para obter receita para mais medicamento, sendo que trazer a receita do Brasil em inglês já é meio caminho andado pra só ter que pedir ao GP aqui para te receitar o medicamento equivalente.

Segundo o site da imigração, só há necessidade de declarar medicamentos se esses forem capazes de causar abuso como esteróides, analgésicos opiáceos, cannabis ou substancias a base de narcóticos. No caso de remédios normais para enjoo, anti-alérgicos, tylenol, luftal, etc, não há necessidade de declarar.

Um parêntesis muito grande tem que ser feito com relação a dipirona. Essa medicamento, apesar de amplamente comercializado e utilizado no Brasil para tratar dores em geral, foi banido de diversos países do mundo por conta de seus efeitos colaterais potencialmente graves, incluindo a Austrália. Tanto que a dipirona se encontra na lista de substanciasproibidas e sujeita a uma licença especial do TGA (órgão australiano) para sertrazida para a Austrália. Então, nada de trazer dipirona/novalgina e afins!  Ah, e me parece que o dorflex também tem dipirona na composição então também não seria permitido. Outros analgésicos como tylenol (vendido aqui como panadol), ibuprufeno (conhecido aqui como nurofen e outros nomes como advil), aspirina (aqui aspirin) são liberados.

Eu sei que essa questão de medicamentos é base pra muita discussão porque muita gente diz que só dipirona cura sua dor de cabeça, só dorflex funciona pra dor x ou y, mas gente, vamos nos conscientizar que se vc está se mudando para um outro país vc terá que se adaptar as regras locais, a comida local e aos remédios locais. É só uma questão de adaptação, de achar um médico da sua confiança aqui e adaptar sua medicação para o que é comercializado aqui. Eu sei que pra quem tá chegando isso parece um bicho de 7 cabeças, mas se vc vier com a mente aberta e disposto a abraçar uma nova cultura, vc não vai ter problema em se adaptar. O que não vale a pena é correr o risco de ser pego e deportado, ou pagar uma multa, porque tentou trazer medicamento ou item de entrada restrita na Austrália. Para uma listagem mais geral de substancias restritas, vide esse site e esse também.

Eu não achei informações específicas sobre homeopatia, o que o site da imigração diz é que tem que se ter cuidado com medicamentos de manipulação porque sua composição pode incluir alguma substancia controlada então tem que conversar com o médico no Brasil para ver se algumas das substancias presentes no medicamento são de entrada restrita na Austrália conforme a lista que consta do link do parágrafo anterior.

Na dúvida, consulte a imigração australiana antes de vir.

Ah, e antes de terminar esse post deixa eu contar uma história engraçada que aconteceu comigo quando cheguei aqui pela primeira vez. Eu trouxe alguns remédios com receita, como pílula, antibiótico, omeprazol, etc. Fiz uma carta em inglês com o nome do remédio, a dosagem e a finalidade e pedi pro meu médico assinar ainda no Brasil. Cheguei aqui com tudo bonitinho mas quando fui preencher o papel da imigração tem a seguinte pergunta:


Como a pergunta não especifica que tipo de “medicine”, e eu não sabia dessas questões que contei aqui no post, fui lá e marquei “YES”. Daí me mandaram pra uma fila especial com os funcionários vestidos com uma roupitcha especial como essa:

 
Imaginem meu desespero! Me senti a própria traficante de drogas (como se traficantes declarassem que estão trazendo drogas…). Quando chegou minha vez o carinha me abordou pra saber 1) se eu estava sozinha; 2) que substancia estava trazendo. Quando eu falei que era remédio de uso normal (já me justificando que tinha receita em inglês e tudo certinho) só faltou o cara rir da minha cara e me mandou passar direto pra saída. haha  Por isso não sigam o meu exemplo: a não ser que vc esteja trazendo alguma substancia proibida, a resposta pra essa pergunta do formulário será sempre “NO”. ;) 

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Vacinas – calendário de vacinação infantil na Austrália

Vira e mexe me perguntam sobre como é a vacinação aqui na Austrália, principalmente quem está vindo com crianças.  Quem mora aqui também sempre tem dúvida sobre se precisa vacinar os filhos quando vai visitar a família no Brasil ou não, daí resolvi fazer esse post com as informações que obtive desde que o Lucas nasceu.

Primeiro para quem está vindo morar na Austrália com o(s) filho(s): vc tem que trazer a carteira de vacinação do seu filho e obter a equivalência aqui. Eu aconselho trazer a carteira traduzida, ou traduzir aqui, e levar a um consultório do GP (general practitioner) para que ele possa lançar os dados no sistema nacional de imunização. Toda criança aqui quando nasce recebe um Blue Book (íntegra aqui), que é um livro azul com todas as informações gerais da criança e as datas dos check ups obrigatórios onde será medido crescimento e avaliado o desenvolvimento geral da criança. Aqui na Austrália esses check ups são menos frequentes que no Brasil no primeiro ano da criança, ocorrem apenas nas seguintes idades:

- newborn (recém nascido)

- 1 a 4 semanas de vida

- 6 a 8 semanas de vida

- 6-8 meses de vida

- 1 ano

- 1 ano e meio

- 2 anos

- 3 anos

- 4 anos

Claro que vc não está impedido de levar seu filho no GP ou nos Health Centre (com enfermeiras) entre essas datas, muito pelo contrário, se vc tem qualquer dúvida ou preocupação com relação ao crescimento da criança, não só pode como deve levar com mais frequência. O Lucas, por exemplo, entre os 6 meses e 1 ano teve consultas mais frequentes não só no Health Centre com as enfermeiras como o GP também o encaminhou pra um pediatra porque tinha preocupação com o crescimento dele. Depois de alguns meses de acompanhamento foi constatado que o crescimento dele era normal, só mais lento (baixinho como os pais esse meu filho. rs) e recebemos alta do pediatra continuando apenas no GP.

A maioria desses check-ups inclui também a vacinação, que, pelo menos em Sydney, é feita pelo GP. Lembrando que a vacinação infantil é obrigatória na Austrália e esse ano o governo instituiu uma nova lei que determina que as crianças que não forem imunizadas não terão direito a diversos benefícios sociais, incluindo o auxílio creche. Além disso a maioria das creches e escolas pede o “immunization record” da criança para que seja feita a matrícula. Há alguns meses eu recebi uma carta do governo dizendo que meu benefício ia ser cortado porque a vacinação do Lucas de 18 meses estava atrasada – não estava, foi um erro do GP que não deu um reforço da vacina de coqueluche que tinha sido recentemente incluído no calendário de vacinação – mas isso mostra como o governo confere mesmo e marca em cima dessa questão porque nos últimos anos tem virado moda a campanha anti-vacinação nos países desenvolvidos, uma ignorância sem tamanho que está fazendo ressurgir doenças já erradicadas como a pólio e colocando em risco a saúde de todas as crianças.

Via de regra a tabela de vacinação no Brasil é mais abrangente que a da Austrália, porque muitas doenças que ainda são endémicas no Brasil já foram erradicadas na Austrália. Então se a criança está com a vacinação em dia no Brasil, muito provavelmente vai estar na Austrália também, é só uma questão de chegar aqui e levar a carteira de vacinação ao GP para ele lançar no sistema da criança (existe um “immunization record” com as informações de cada criança, que os pais podem consultar online pelo app do Medicare e imprimir o comprovante caso precisem apresentar na creche/escola).

O governo australiano tem um site bem completo sobre vacinação, com várias infos interessantes. Fiz um comparativo da tabela do Brasil e da Austrália pra facilitar.
 
 
 

Como vcs podem ver, as diferenças basicamente são:

- BCG não está no calendário de vacinação da Austrália porque a tuberculose não é endémica aqui;

- a vacina contra meningite C só entra no calendário da Austrália aos 12 meses de idade, enquanto que no Brasil começa aos 3 meses;

- a 3ª dose da vacina pneumococcal é dada na Austrália aos 6 meses de idade, enquanto no Brasil é dada com 12 meses;

- o reforço da penta (difteria, tétano, coqueluche) é dado com 15 meses no Brasil e com 18 meses de idade na Austrália;

- na Austrália não tem o reforço da vacina de pólio aos 18 meses, só aos 4 anos de idade;

- a vacina de HPV na Austrália só é dada na adolescência, não aos 15 meses de idade como no Brasil.

Todas as vacinas que estão no calendário oficial de vacinação na Austrália são dadas gratuitamente no sistema público pelos GPs e o valor integral é custeado pelo Medicare. Não sei ao certo se apenas residentes e cidadãos tem direito a essas vacinas de forma gratuita, ou se qualquer visto também dá direito – melhor checar com o GP.

Lembrando também que para entrar na Austrália é solicitado para todas as pessoas provenientes do Brasil o comprovante de vacinação contra febre amarela. Esse assunto já gerou muita discussão nos grupos de brasileiros, mas as infos oficiais e atuais são:

- a vacina contra febre amarela é requerida na imigração mas não é obrigatória (“People who are one year of age or older will be asked to provide an international vaccination certificate if, within six days before arriving in Australia, they have stayed overnight or longer in a yellow fever risk country. People unable to provide a certificate will still be able to enter Australia.”). Claro que se vc tem um visto temporário, ou mesmo na primeira entrada com o visto de residente, não vale a pena correr o risco de vir sem a vacina porque existe uma lei internacional de que qualquer país pode negar a entrada de qualquer pessoa, mesmo que tenha um visto válido, por qualquer motivo. Eu nunca ouvi dizer de alguém que teve a entrada negada na Austrália porque não apresentou o comprovante de vacinação contra febre amarela, mas sei lá, eu não arriscaria. Já se vc já é residente ou cidadão aqui, pode tranquilamente não apresentar – na nossa viagem pro Brasil esse ano eu optei por não dar a vacina no Lucas porque ele ainda é pequeno e estava tomando muita vacina na véspera da viagem, além da febre amarela não ser endémica no Rio de Janeiro onde ficaríamos. No retorno a Austrália, me pediram o comprovante dele, eu disse que não tinha dado a vacina, na imigração não falaram nada e só na alfandega um cara veio encrencar e chamou a supervisora, mas essa na mesma hora disse que a vacina não era obrigatória e ficava a cargo dos pais dar ou não pra criança, e nos liberou sem maiores problemas.

 
- antigamente se dizia que a vacina tinha validade de 10 anos e depois disso tinha que tomar reforço. Agora a OMS já decidiu que uma única dose é suficiente pra toda a vida:

 
- qualquer criança maior de 9 meses de idade pode tomar a vacina:

 
No Brasil vc tem que buscar o posto de saúde da sua cidade que aplique a vacina de febre amarela e de um cartão internacional de vacinação (em português e inglês) da Anvisa atestando a vacinação, que deve ser feita até 10 dias antes da viagem.

 
Para quem vacinou os filhos aqui na Austrália e quer ir ao Brasil, as principais vacinas que a criança não recebeu aqui pelo calendário oficial e no Brasil são obrigatórias são:

- meningite B

- febre amarela

- BCG

Como eu disse acima, as vacinas do calendário oficial são gratuitas e aplicadas por qualquer GP. As vacinas que não estão no calendário oficial também estão disponíveis, mas vc tem que pagar por elas e muitas vezes buscar um local específico que tenha o estoque. Ultimamente tem ocorrido uma busca grande pela vacina contra meningite B, e poucos lugares estão com estoque. Outro exemplo é que no último inverno eu e Thiago optamos por tomar a vacina da gripe, pagamos $20 para tomar no GP, mas não conseguimos dar pro Lucas porque o laboratório não estava enviando vacina da gripe pra crianças.

Nesse caso como fazer? Primeiro vc tem que avaliar seu caso concreto e conversar com seu médico daqui sobre a necessidade de dar essas vacinas. Vou contar o MEU caso, lembrando que sou absolutamente pró vacina.

Quando fomos no Brasil com o Lucas pela primeira vez, conversei com o pediatra dele sobre dar ou não a BCG (na época ele ainda era muito novo pra vacina de febre amarela). Liguei também pro departamento de pulmão do hospital da minha região, que é quem aplica a BCG aqui, e perguntei sobre a necessidade de dar a vacina pro Lucas. O que me disseram foi que, ainda que a tuberculose seja endémica no Brasil, o risco de contágio ocorre quando se passa mais de 3 meses no país, ou com contato direto com o doente. Como nós só vamos ao Brasil no máximo 1x ao ano e por no máximo 1 mês, não havia necessidade de dar a vacina pro Lucas, até porque a eficácia dessa vacina é de apenas 60% e como ela está no calendário oficial do Brasil, a imunização da maioria das crianças protege as não imunizadas.

Já a vacina de febre amarela eu ainda não me convenci da necessidade de dar pro Lucas, mas na dúvida vou acabar dando por precaução antes da nossa próxima ida ao Brasil. Quanto a de meningite, está uma luta aqui pra achar, mas pretendo dar assim que eu conseguir.