Mais um mês sem escrever... Não tenho nem mais desculpas pra tamanho abandono do blog. Podia dizer que é falta de assunto, mas acho que a verdade é que é preguiça mesmo... Fora as mil coisas que aconteceram nos últimos meses (comento algumas no decorrer do post, os fortes que agüentarem ler o testamento que vem por aí saberão! haha).
Hoje estava respondendo um email que recebi, do Dyego, que me pediu opinião sobre se valia a pena largar a vida no Brasil pra tentar a vida na Austrália, principalmente quando já se passou dos 30 anos e o medo de recomeçar de novo vai ficando mais forte.
Achei que seria interessante reproduzir algumas partes da minha resposta aqui.
Pra quem pensa em vir com um visto de estudante com o objetivo de fixar residência definitiva aqui, eu já adianto que EU não faria. Não que não tenha gente que tenha conseguido vencer aqui nessas condições, tem aos montes, mas EU, na época que vim, com mais de 30 anos, uma carreira sólida no Brasil, um ótimo emprego e tal, não largaria tudo por um visto de estudante e um futuro absolutamente incerto. Pra quem quer vir nessas condições, meu conselho é: trace um plano muito bem estruturado de longo prazo para conseguir uma residência. E nisso não se inclui casar com australiano, tá? haha Não que isso não dê residência, ou que não seja a saída de muita gente, mas acho que todos nós temos que trilhar nossos caminhos independentes. Um companheiro acrescenta, e muito, mas não pode ser um objetivo de vida pra se alcançar coisas materiais.
Então planeje estudar algo aqui que esteja na lista de demanda e possa te dar um visto de residência no futuro. Esse ano mesmo a imigração anunciou que entrará na nova lista as profissões de chef (na verdade retornando na lista depois de ter sido retirada há alguns anos), bricklayers e tilers. Claro que essa lista muda todo ano e é difícil saber o que vai ficar ou não, mas dá pra ter uma idéia, o suficiente pra construir um plano de futuro.
Pra quem pensa em vir com visto de sponsor, algumas coisas tem que ser consideradas. O visto de sponsor não dá a estabilidade de um visto de residência. Vc fica vinculado a empresa que te sponsorou e se sair dela tem 30 dias pra arrumar outro sponsor ou sair do país. Também não tem direito a nenhum benefício social do governo, nem mesmo o Medicare, então vc tem que considerar os custos com isso. Realmente ao final de um período vc pode aplicar pra residência, mas não sei como esse processo funciona ou se isso é uma coisa tão “certa” assim. Conheço gente que aplicou, mas também conheço quem não tenha conseguido. Isso tem que ser considerado quando for analisar o salário oferecido. Quando te oferecerem um package (salário anual, incluindo superannuation), vai nesse site pra calcular quanto vc vai receber líquido por mês.
O orçamento mensal varia muito de pessoa pra pessoa, eu publiquei um post sobre isso aqui. Claro que essa é minha opinião pessoal, conheço muita gente que vive com menos e muitas que não conseguem imaginar viver com isso apenas.
Algumas observações sobre salário por essas bandas daqui:
- o salário mínimo aqui na Austrália é de +/- 40k por ano (daqui pra frente, quando eu digo salário de, p.ex., 50k, o "k" significa mil, ou seja 50k = 50.000 dólares por ano. E quando eu digo "package", inclui superannuation – que geralmente é de 9% – mais impostos. O site que eu mencionei acima ajuda a converter o package em valor líquido mensal).
- o salário do australiano médio gira em torno de 60k por ano, package. Acima de 90k é considerado um bom salário.
- quando se fala em salário, varia muuuuiiittoooo de pessoa pra pessoa e de uma área de atuação pra outra. Conheço arquitetos (australianos, by the way) que ganham 60k mesmo com 5 anos de experiência, e acham que o máximo que vão alcançar com 20 anos de experiência será 80k. Enquanto conheço outros que com 5 a 10 anos de experiência já estão ganhando mais de 100k. O mesmo vale para qualquer área: em TI tem muita gente ganhando acima de 100k de salário inicial, mas também tem muita gente com bem menos que isso.
Então cuidado ao comparar salário, tem muitas variantes aí. Tem vários sites na internet com a média de salário por área de atuação, como esse aqui.
Como via geral (ainda que não seja regra), áreas como TI, medicina e advocacia pagam bem mais que as demais. Mas, como eu disse, existe gente muito bem remunerada em outras áreas.
Quem quer vir com qualquer visto que não seja de residência e tiver filhos, tem que considerar também o gasto com educação e saúde, que não é barato. Se mesmo pra residentes as childcares são pagas (e caras), imagina pra quem não tem nenhum benefício do governo.
Minha opinião (super pessoal, o Thiago mesmo discorda, por isso repito: é MINHA opinião): um salário em torno de 55k é bem razoável pra começar a vida por aqui. Se vc for esforçado, um bom profissional, tem muitas chances de em 1 ou 2 anos conseguir um aumento de 50% ou até mesmo 100% (esse último, claro, normalmente trocando de empresa e dependendo da área). Agora, se esse salário for para sustentar o casal, ou filhos, eu já acho que fica bem apertado. Mas - e sempre tem um porém - muita gente consegue sobreviver com isso! E até menos! Então eu repito: isso é muito pessoal.
Outra pergunta do Dyego foi se vale a pena largar um trabalho promissor no Brasil e recomeçar na Austrália. Bom, eu sou suspeita pra falar, pois trabalhava como advogada num escritório, ganhava super bem, tinha uma vida estabilizada, e larguei tudo pra vir pra cá, mesmo sabendo que não ia poder advogar aqui e com isso ganhar um salário equivalente. Ah, e também tinha mais de 30 anos quando vim.
Como comentei nesse post no blog, o primeiro ano foi muito difícil, muito mesmo, principalmente pra mim. Pensei em voltar várias vezes, alguns meses todo dia... rs Mas passados 2 anos e meio acho que foi a melhor decisão que tomei! Estou num emprego ótimo num escritório de advocacia, e se é verdade que não advogo, ganho bem pra trabalhar pouco(e sem estresse!) e poder ter um tempo livre que nunca tive no Brasil. Thiago está no segundo emprego, ganhando mais que o dobro do que quando começou, e no emprego dos sonhos dele. E pra completar estamos esperando nosso primeiro filho (yay!), fizemos muitos amigos (muito mais do que eu esperava), moramos num bairro que amamos, com a vida a dois que sempre sonhamos.
Outra coisa a ser levada em conta é que as coisas aqui acontecem bem mais rápido, o poder de compra é bem maior que no Brasil. Mesmo amigos meus que ainda estão trabalhando como garçom conseguem juntar dinheiro, viajar, comprar um carro. Tem também a vantagem de poder morar num subúrbio mais afastado do centro, economizando com aluguel, e ainda assim ter uma excelente qualidade de vida. Muito diferente de um subúrbio afastado na maioria das capitais brasileiras...
Por fim, uma coisa que eu sempre pensava antes de vir e nos momentos difíceis do começo é: vc sempre vai poder voltar pro Brasil se as coisas não derem certo aqui! Nunca se está velho demais pra recomeçar, apesar da idéia poder soar assustadora. Se vc vier, passar 2 anos trabalhando ainda que remotamente na sua área aqui, e ao final tiver que voltar pro Brasil, vai levar a experiência e a fluência no inglês. Isso com certeza vai te ajudar a se reestruturar e recomeçar.
Dá medo? Sim, muito! É difícil? Sim, muito. Vale a pena? Pra mim valeu e muito. :)