sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Passo a passo para conseguir um emprego na área jurídica em Sydney (parte III)

Finalizando o post anterior, uma pergunta que vc deve estar preparado para responder nas entrevistas é sobre sua pretensão salarial. Algumas vagas vão constar o salário no próprio anúncio, e aí fica fácil pois vc pode pedir o que foi anunciado, mas a maioria não consta. Muitos recruiters vão te dizer espontaneamente qual é a margem que a empresa está disposta a pagar (acredite, eles sempre sabem), outros vão te perguntar primeiro. E aí, o que responder?

Primeiro tenha em mente que as propostas de salário aqui são anuais, e incluem ou não o Superannuation (a previdência privada obrigatória, que se não me engano é um desconto 9.5% sobre o valor bruto do salário). No início é meio confuso saber o quanto um valor mensal significa por mês, e o imigrante normalmente está tão desesperado pela primeira experiência que topa qualquer salário. Mas não custa vc ter uma ideia de quanto se paga na área.

Pra calcular o quanto um valor x mensal representa mensalmente, vc pode usar esse site aqui. Pra saber quanto vc vai gastar por mês, eu fiz um post sobre custo de vida aqui.

Em linhas gerais, o salário mínimo é de AUD$656,90 por semana, o que dá em torno de AUD$35.000 por ano, devendo ainda ser descontado o imposto. Na área jurídica eu nunca vi um salário menor que AUD$45.000 por ano, o que ainda assim é baixo. O que eu considero um valor razoável pra quem tá começando aqui é AUD$50.000-55.000 por ano. Se esse valor for incluindo o Superannuation, tenha em mente que vc vai ter 9.5% descontado disso, mais imposto de renda.

Claro que isso tudo varia muito dependendo da vaga. Já fiz entrevista pra vaga que pagava AUD$45.000, como também já fiz entrevista pra vaga que pagava AUD$60.000.

Então eu acho que um valor razoável pra quem busca o primeiro emprego, sem experiência local, é pedir algo em torno de AUD$50.000-55.000, ou 50K-55K, como eles falam aqui. Aí vão te perguntar: “Super inclusive?” E não custa vc pedir o Superannuation a mais, se colar colou. Tenha em mente que se a empresa tiver disposta a te pagar digamos 60K e vc pedir 50K, eles não vão te pagar menos pensando: “beleza, me dei bem, o cara quer menos então vou economizar”. Se o orçamento deles é pra te pagar x eles vão te pagar no mínimo isso. O interessante de saber o quanto vc vai poder pedir é pra vc negociar um valor maior.

Ah, lembrando que se a vaga for temporária ou casual, o salário normalmente é pago por hora trabalhada, que varia entre $20-30 por hora.

Mas vai tudo depender da vaga. Via de regra, vagas de legal secretary podem pagar melhor pra uma posição iniciante, mas vão te dar menos margem de crescer financeiramente. Dificilmente vc vai achar uma secretária sênior ganhando mais do que 90K por ano. Já para vagas de paralegal, legal assistant e executive assistant, muitas vezes o salário inicial é menor (porque se contrata muito estudante de direito pagando pouco), mas vc pode chegar até a 120K por ano para um paralegal sénior.

Lembrando que o salário do australiano médio é de 60K por ano, e acima de 136K por ano é considerado “high income earner” e a tributação aumenta e os benefícios do governo diminuem ou zeram. Ou seja, a área jurídica paga muito bem. Ainda que numa posição de suporte como legal secretary, paralegal ou legal assistant vc tem chance de ganhar o mesmo ou até mais que profissionais com curso superior de outras áreas.


Vale dar uma lida no site do Fair Work pra saber quais são os direitos trabalhistas na Austrália, assim como pesquisar em sites como o PayScale pra ver a média de salário. Se bem que quando eu pesquisei lá paralegal deu um valor mínimo de $32.000, ou seja, menos que o salário mínimo, o que achei bem estranho…

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Passo a passo para conseguir um emprego na área jurídica em Sydney (parte II)

Continuando o post anterior, uma vez vc tendo seu currículo e cover letter prontos comece a mandá-los para todas as vagas que puder. Esqueci de dizer que além do Seek, que comentei no post anterior, vc pode também mandar seu currículo direto para os recruiters e para os escritórios de advocacia. Eu fiz pouco isso pois sinceramente acho meio complicado mandar currículo genérico sem saber a vaga que eles tem em aberto. Eu sempre acho que esse tipo de abordagem faz seu currículo cair num buraco negro e ninguém vai guardá-lo pra quando uma vaga abrir. A não ser que vc dê a sorte de mandar justamente pra uma empresa que esteja contratando naquele momento pra uma vaga em que vc se encaixe, mas aí essa vaga vai também estar sendo anunciada no Seek e é melhor vc responder ao anúncio pois vai poder moldar seu currículo as especificidades da vaga. Se ainda assim vc quiser mandar, uma empresa de recruiter que eu sugiro é a People2People porque quando fiz entrevista lá o recruiter me comentou que eles tem muitas vagas temporárias e costumam entrevistar e encaminhar muitos advogados estrangeiros. Até hoje eu recebo email e sms deles com vagas temporárias que precisam de gente urgente. Ah, tem gente que sugere também ir pessoalmente nos escritórios/empresa deixar currículo. Eu sinceramente acho isso coisa de stalker, haha, e odiava quando faziam isso no escritório que eu trabalhei no Brasil. Mas já ouvi gente aqui que jura que dá resultado, então siga o que vc acha melhor.

Voltando ao passo a passo para conseguir um emprego:

3) A entrevista por telefone. Com um pouco de sorte e paciência, vc será chamado pra uma entrevista. Normalmente o que acontece primeiro é o RH/recruiter te ligar para checar seu nível de inglês e repassar sua experiência, fazendo uma mini entrevista por telefone. Aqui vai uma dica: procure sempre dizer que vc não pode falar no momento (porque está no trem, na rua com barulho, ou qualquer desculpa parecida) e peça para retornar em seguida. Por que? Imagina que vc mandou 20 currículos num dia. Aí te liga um cidadão falando mega rápido no intrincado sotaque australiano e dizendo que o nome dele é x, ele trabalha pra empresa y e perguntando se vc pode conversar sobre a vaga. O que vc entende? Bla bla bla bla + vaga = pânico. Quais as chances de vc, recém chegado aqui, ainda inseguro no seu inglês, entender 100% quem é a pessoa do outro lado da linha, lembrar qual é a vaga assim de cara e lembrar que currículo adaptado vc mandou pra essa empresa? Quase zero. Então a dica que me deram no curso que fiz aqui pra conseguir emprego foi: dê uma desculpa e peça pra retornar em seguida, nem que seja em 10 minutos, pra dar tempo de vc se recompor, checar nos seus emails que currículo vc mandou pra essa empresa e se preparar para a entrevista por telefone.

Essa dica é ótima e certamente deveria ser adotada sempre. Agora pergunta quantas vezes eu segui? Nenhuma! haha  Eu ficava tão empolgada de estarem me ligando e com medo de perder a oportunidade se pedisse pra retornar que acabava sempre dizendo: sim, claro que posso falar agora. Resultado: perdi oportunidade assim. Uma vez a mulher do RH de uma empresa me ligou, pediu pra eu contar minha experiência, eu comecei a falar meio genérico pois sequer tinha entendido de que empresa ela era, e quando eu terminei ela disse: desculpe, mas vc não se encaixa no perfil que estamos buscando, achei que vc tinha uma experiência mais específica na área corporativa. Certamente se eu soubesse com quem estava falando teria me preparado melhor. Então não cometam a mesma burrice minha e pode pedir sem medo pra retornar depois. Só peguem muito bem os detalhes de quem te ligou, claro.

Aqui entra outra questão: nossa insegurança com o inglês. É super normal que vc chegue aqui e se sinta inseguro com seu inglês, eu mesmo tendo tirado 8 no IELTS e gabaritado o “listening” da prova, sempre achei que meu inglês não era suficiente. E eu morria de medo de reconhecer que eu não tinha entendido algo que me diziam, então fingia que entendia, o que claro era bem pior. Imagina vc ter que retornar uma ligação sem saber o nome de quem te ligou! Meu conselho é: não tenha medo de pedir pra pessoa repetir o nome ou onde trabalha! Até os australianos fazem isso, pois vamos convir que quando vc atende uma ligação e a pessoa desanda a falar o nome, de onde é e o que quer, em 5 minutos de conversa vc mal vai lembrar o início da conversa onde ela se apresentou.

Simulando uma ligação de um recruiter, vc poderia dizer algo assim:

Recruiter: - Hi, may I speak with (seu nome) please?
Vc: - (seu nome) speaking.
Recruiter: – Hi (seu nome), how are you? My name is x, I work for y, we received your CV and I was wondering if we could have a quick chat about the position w and your experience.
Vc: - Of course we can, but I am in the train at the moment and it is a bit loud, is it ok if I call you back in about 10 minutes?
Recruiter: - Yes, sure.
Vc: - I am sorry, but could you please repeat your name and company again? The call isn’t very clear.
Recruiter: - Of course, my name is x and I work for y.
Vc: - Perfect, I will call you back shortly. (levando em conta que o número da pessoa apareceu no seu celular. Caso negativo não custa pedir, ou se vc estiver muito inseguro sempre dá pra pesquisar o telefone geral da empresa no Google, vc só vai perder a chance de conseguir o telefone direto da pessoa)

Aí vc vai nos seus emails, checa a vaga, vê o currículo que vc mandou, respire fundo e liga de novo:

Vc: - Hi, may I speak with x (nome do recruiter), please?
Recruiter: - Speaking.
Vc: - Oh, hi x, my name is (seu nome) and I am returning your call to discuss my application to the (nome da vaga) position.

E aí vc faz uma mini entrevista por telefone, que normalmente não dura mais de 10 minutos e serve mesmo pra pessoa confirmar seu nível de inglês e sua experiência naquela área. Das entrevistas que fiz com recruiters por telefone, em quase todas eles me chamaram pra uma entrevista em pessoa (com exceção daquela que narrei acima em que me confundi quanto a vaga em questão).

Aqui um detalhe: se te chamarem pra uma entrevista em pessoa, tenha certeza de que entendeu todos os dados quanto ao dia e local e não hesite em pedir que a pessoa repita se vc não entendeu. Na maioria das vezes o recruiter vai te mandar um email com os detalhes da entrevista pessoalmente, e se ele disser que vai te mandar esse email e em 24hrs vc não receber, pode ligar perguntando (vai que caiu na caixa de spam ou ele esqueceu de mandar).

4) A entrevista pessoalmente. Chegou o grande dia da entrevista frente a frente e vc está apavorado. Eu pelo menos estava… haha É super normal ficarmos nervosos com qualquer entrevista, imagina uma num país diferente e toda em inglês, pra uma função que vc nunca trabalhou e tem pouca ideia de como funciona na prática. Aqui vou dar algumas dicas, mas a verdade é que vc só vai aprender na prática e com seus erros. Vc pode dar sorte de conseguir algo logo de cara, ou pode precisar de mais tempo para se aprimorar. Eu nas minhas primeiras entrevistas que fiz era uma múmia, só respondia o que era perguntado e quase implorava pela vaga dizendo que eu topava fazer tudo. haha  Aos poucos fui me soltando e no fim já estava até contando piada em inglês. Mas mesmo vc achando que foi bem, se prepare para decepções. Uma vez fiz uma entrevista num escritório que amei: passei pelo RH deles, me chamaram para a entrevista com o sócio e foi ótima, achei que tinha me saído super bem, rimos juntos, ele pareceu super impressionado com a minha experiência, até chamou o outro sócio para me apresentar, enfim, saí de lá achando que tinha conseguido. Pergunta se algum dia me ligaram? Teve ainda uma outra vez que uma recruiter me amou e me encaminhou pra um escritório também com uma vaga ótima, exatamente o que eu queria. A entrevista foi maravilhosa, e quando saí a recruiter me ligou pra dizer que a advogada tinha ligado pra ela e dito que eu era exatamente quem eles procuravam e que eles tinham me adorado. Achei que tava certo, mas no dia seguinte a recruiter me avisa que eles decidiram promover alguém interno pra vaga e não iam me contratar. Imagina o balde de água fria! Mas essa experiência foi ótima porque com o feedback que a recruiter recebeu da empresa eu caí nas graças dela e ela queria me indicar pra toda vaga que aparecesse. E nada melhor do que cair nas graças de recruiter! Eu costumava odiar eles porque nunca me retornavam, haha, mas no fim quando caí nas graças de uns 3, foram eles que me encaminhavam pras vagas mais promissoras. Isso porque quando vc é selecionado diretamente pelo escritório/empresa, são dezenas de pessoas que eles estão entrevistando. Já quando vc vai recomendado por um recruiter, o escritório/empresa vai entrevistar no máximo 2-3 pessoas porque a ideia é justamente que o recruiter faça o filtro pra eles.

Chega de enrolação e vamos as dicas:

- seja pontual (sempre!). Se isso já é uma regra pra qualquer entrevista, mesmo no Brasil, aqui na Austrália então é fundamental. E nem adianta a desculpa de que pegou trânsito, o trem atrasou, etc, o mínimo que se espera aqui é que vc preveja esses imprevistos. Então se programe pra chegar no local uns 30 minutos antes, pare para tomar um café pra relaxar e chegue ao local marcado no máximo 5 minutos antes (chegar com muita antecedência também pega mal).

- não preciso nem dizer que tem que se vestir de forma adequada, né? Eu ficava na dúvida quanto ao grau de formalidade local, então na dúvida ia com uma calça social, camisa social e um blazer ou um vestido social e meia calça. Não precisa de salto alto pras mulheres, e acredito que pros homens não precise de terno, basta calça e camisa social (e talvez um blazer), mas na dúvida eu se fosse homem iria de terno já que o meio jurídico é sempre mais formal.

- sorria e faça contato visual.

- a abertura da entrevista é sempre uma conversinha fiada, normalmente sobre o tempo, ou como foi seu fim de semana. Então esteja preparado pra esse tipo de pergunta e pra manter esse tipo de papo furado por alguns minutos. Eu virei especialista nisso, Thiago vive me sacaneando que eu fico de papo furado com todo mundo, do motorista do onibus ao vizinho.

- se a entrevista for com um recruiter, pode contar que vai ter um teste de Word, Excel (e as vezes Power Point) e typing (não sei se é padrão, mas todos os recruiters que fui fizeram). O teste de Word/Excel é basicamente pra ver o quanto vc sabe desses programas e costuma ser bem fácil. Só tive dificuldade uma vez porque aparecia a pergunta e eu tinha que clicar direto na aba correta senão perdia o ponto da questão e eu sou péssima em saber a aba certa de cabeça, vou fuçando até achar o que quero, ainda mais porque uso diversos tipos de Windows e Mac. Ah, o recruiter pode te perguntar em que versão do Windows vc quer fazer o teste, pra mim dava no mesmo porque não sabia de cor nenhuma. haha O teste de typing é um pouco mais difícil porque eles querem checar sua velocidade de digitação. Vc vai ver que muitas vagas (principalmente de legal secretary) pedem especificamente uma velocidade x de digitação. Eu achava que era super rápida digitando e ia tirar de letra. Tolinha! Fui fazer um teste online e minha velocidade mal chegava a 55 wpm (words per minute) sendo que muitas vagas pedem 80 wpm! Mas no geral 60 wpm é o mínimo, e vc só alcança uma velocidade maior que isso se digitar com os “dedos” corretos, o que pouca gente faz (a não ser que vc tenha feito curso de digitação). Então se a vaga pedir isso, testa sua velocidade em casa (tem vários sites como esse aqui) e treina pra melhorá-la, se for o caso. Eu, mesmo com treino (no curso do TAFE tínhamos aula de typing também), nunca consegui passar muito de 65wpm, e isso nunca me atrapalhou nas entrevistas.

- prepare o que vc vai falar sobre a sua experiência profissional, dando exemplos concretos que se adeqúem a função que vc está aplicando. Repito o que eu disse no post anterior: não adianta dizer que vc era o bambambam do contencioso/tributário no Brasil se vc está aplicando pra uma vaga de suporte. Muitos entrevistadores vão te perguntar sobre uma situação x que vc encontrou no seu emprego anterior e como vc resolveu. Prepare algumas situações que se adeqúem a várias qualidades (teamplayer, multitask, deadline oriented) para vc poder usar. Exemplo: se te perguntarem um exemplo na sua experiência profissional que mostre sua habilidade de ser teamplayer. Vc pode dizer que trabalhou no projeto y que era muito desafiador e complexo, o prazo se aproximava e vc percebeu que não daria conta de cumpri-lo. Então vc foi conversar com seu chefe, negociou um prazo adicional e pediu ajuda de um colega, delegando tarefas. Só aí vc já respondeu o exemplo de teamplayer e ainda mostrou que não tem receio de pedir ajuda quando necessário, sabe negociar prazos complexos, etc. Eu achava isso tudo meio sacal e bobo, até porque fazia mais de 10 anos que eu não fazia uma entrevista de emprego. Nem sei se é assim que funciona no Brasil, mas aqui eles são bem metódicos e adoram um exemplo prático. Ainda mais pra essas vagas de suporte que são mais mecânicas. Mas claro que isso não é regra, na entrevista com meu chefe atual, que é americano, ele não perguntou nada disso e foi mais uma conversa genérica e eu até sacaneei ele, sem me dar conta na hora. haha  Explico: ele quando viu que eu era brasileira disse que o nome de uma das filhas dele era um nome brasileiro, disse qual era e eu, na maior espontaneidade: sinto te dizer que esse nome não tem nada de brasileiro.  haha  Ele riu e ainda tentou dizer que era sim, que era de uma modelo brasileira, e eu: ahhhh, sim, realmente tem uma modelo com esse nome, mas porque a família dela é italiana, porque o nome em si de brasileiro não tem nada. Pra completar quando terminou a entrevista ele perguntou se eu queria que ele me levasse pra conhecer o escritório e eu respondi: "não precisa, vou conhecer quando começar a trabalhar aqui". Juro que não sei de onde tirei essa ousadia e gaiatice toda, ainda mais eu que travava com qualquer piada em inglês. Mas acreditem: melhora com o tempo. No inicio quando comecei aqui no escritório eu morria de medo das conversas com esse sócio porque ele fazia piadas irónicas que eu nunca entendia (ah, os americanos). Hoje em dia até sacaneio ele, como no outro dia que o vi bebendo o segundo copo grande de café no dia (que aqui na verdade é uma dose de café expresso e 500ml de leite) e disse que ele bebia mais leite que o meu bb. E ele responde rindo: “get off my feet”. haha

- prepare algumas perguntas para o entrevistador. Na maioria das vezes quem está te entrevistando vai começar a entrevista falando sobre a vaga, a empresa e vai te dar muita informação e no fim quando te perguntarem se vc tem alguma pergunta vc se pega sem ideia e diz que não tem nada a perguntar. Só que isso cai mal, e acredite, vc sempre tem coisa a perguntar! Desde como é o trabalho em equipe na empresa, a progressão de cargos, quando vc pode esperar uma resposta do processo seletivo e mil coisas que eu já nem lembro mais mas com certeza o Google está aí pra te ajudar com mil ideias. ;)  Só cuidado, claro, pra não soar pedante ou demonstrar que vc não está interessado na vaga em si, que ela é só um trampolim para algo maior e daí cair na questão de vc ser “overqualified”. E também não vale bombardear o entrevistador com mil perguntas, uma ou no máximo duas já são mais do que suficientes.


- termine dizendo sempre algo como: “it was a pleasure to meet you and I look forward to hearing from you”.

No próximo capítulo dessa novela eu vou concluir com o que acontece quando vc recebe uma proposta de emprego, o que dizer quando te perguntam sobre sua pretensão salarial, etc.





P.S.: Esse post e o próximo é basicamente pra quem tem visto de residência. Nada impede que com outro visto vc consiga uma vaga nessa área, mas tenha em mente que vai ser beeemmm mais difícil.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Passo a passo para conseguir um emprego na área jurídica em Sydney

Recebo muitos emails de advogados perguntando sobre como conseguir um emprego na área aqui em Sydney. Por “emprego na área” leia-se posições de supoerte como paralegal, legal assistant e legal secretary, pois a não ser que vc valide seu diploma por aqui, vc não poderá atuar como advogado.

Já fiz diversos posts sobre o mercado na Austrália para advogados (aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e por favor leia também esse post aqui), mas ainda recebo muitas perguntas sobre como é o passo a passo pra conseguir um emprego na área jurídica. Atendendo a pedidos, aqui está:

1) Monte seu currículo e sua cover letter básicos (digo básicos porque vc vai ter que adaptá-los para cada vaga que mandar)

Quanto a cover letter, nada mais é do que uma carta de apresentação sua. Eu achava que ela devia resumir o currículo, mas depois fui adaptando pra algo bem curto e em bullet points focando no vaga. Tipo: se a vaga pedia alguém “teamplayer” eu colocava na cover letter que eu era teamplayer porque trabalhei em sistema de cooperação com uma equipe de x pessoas sempre em harmonia. E assim por diante. Dá um enorme trabalho fazer uma cover letter para cada vaga, por isso que eu digo que só arrumei emprego quando larguei todos os meus 4 (sim, 4!) empregos como garconete e babá, que me consumiam fisicamente e tomavam muito do meu tempo. Já falei mais sobre cover letter nesse post aqui.

Tenha em mente que vc estará aplicando para uma posição inferior ao que vc fazia no Brasil. Então não adianta nada vc dizer no currículo que coordenava um cliente, era o bambambam do contencioso/tributário/etc se vc almeja uma vaga de secretária ou paralegal. Um currículo muito pomposo só vai fazer vc ser considerado “overqualified” logo de cara e ter seu currículo descartado.

Eu quando cheguei me recusava a cortar minha longa experiência de quase 10 anos no contencioso, e todas as coisas que eu alcancei na minha carreira. Até conversei com um conhecido australiano que é advogado aqui, ele revisou meu currículo, ficou impressionado com a minha experiência e até encaminhou meu currículo para o responsável do RH do grande escritório que ele trabalhava. Deu em que? Nada! Não me chamaram nem pra uma entrevista porque na maioria das vezes QI não significa nada por essas bandas se vc não tiver o perfil que a empresa está procurando (há exceções, claro, eu mesma já consegui indicar uma amiga pra minha vaga quando saí de licença maternidade, mas isso é exceção por essas bandas, talvez porque meu chefe seja americano ele veja QI com outros olhos, talvez porque ele realmente me ame. haha).

Enfim, passei meses dando murro em ponta de faca e enviando meu longo e qualificado currículo pras vagas de paralegal/legal secretary/legal assistant e no máximo conseguia uma mísera entrevista por mês, sempre infrutífera.

Até que o Thiago finalmente me convenceu a cortar meu currículo, enxugá-lo ao máximo. Como foi dolorido! Negar toda a experiência que eu tinha, dizer que eu só atuava como “suporte” no escritório que trabalhei no Brasil quando na verdade eu tinha o meu próprio time de advogados, cuidava de quatro grandes clientes praticamente sozinha e ganhava participação nos lucros. Depois de contornar meu ego, reduzi meu currículo para 2 páginas, onde praticamente constava assim:

Meu nome
+
Meus dados pessoais (endereço, celular e email) – P.S.: Muita gente aconselha a não incluir o endereço porque pode ser motivo de discriminação dependendo do bairro que vc mora.
+
Career objective – aqui eu falava em 3 linhas qual meu objetivo na área jurídica, no caso trabalhar como paralegal ou legal assistant (eu mudava pra legal secretary dependendo da vaga) numa posição em que eu pudesse desenvolver meus conhecimentos jurídicos e administrativos.
+
Profile – aqui eu colocava palavras chaves que eram pedidas no anúncio, tipo: “motivated, fast learner, diplomatic, proactive, multitask” exemplificando muito brevemente com fatos da minha experiência. Tipo: “Motivated, fast learner and a successful 9-year track record in the legal area, specialized in commercial litigation.” Esse campo tem que ser adaptado para cada vaga, vc tem que ler o que a vaga pede e tentar ao máximo “responder” a todos os itens solicitados.
+
Education – colocava apenas meu diploma no TAFE e meu bachelor of law. Tirei minha pós e minha habilitação na OAB por serem absolutamente irrelevantes pra posição de suporte que eu aplicava.
+
Employment History – aqui eu colocava o período que trabalhei na empresa, o nome da empresa (detalhe que se for “…Advogados” vale a pena traduzir para “…Lawyers” pra eles saberem aqui que se tratava de um escritório de advocacia e embaixo do nome do escritório eu ainda colocava uma descrição dele assim: “Medium-sized full-service corporate law firm”. Se vc trabalhou pra uma empresa, vale a pena fazer o mesmo pra eles saberem aqui o tipo de lugar que vc trabalhava), a posição que eu tinha no escritório e as responsabilidades que tinha.

Aqui faço um adendo pra fazer uma confissão: depois de tanto ser rejeitada ou sequer obter resposta, comecei a colocar no meu currículo que eu trabalhei no Brasil como “legal assistant” e não como advogada. Feio isso, eu sei, mas não estava mentindo criando uma posição que eu não atuava, eu apenas estava “diminuindo” a minha função. Coincidência ou não a partir daí comecei a receber muito mais retorno e até o escritório que me contratou hoje foi com o currículo assim. Me envergonho até hoje pelo que fiz e foi um sufoco quando tive que dizer a verdade aqui. Quer dizer, sufoco pra mim, porque meus chefes acharam super natural eu ter mentido pra baixo, é super comum imigrantes fazerem isso pra conseguir o primeiro emprego na Austrália. Tanto isso não foi problema que quando eles me ofereceram uma promoção do cargo de legal secretary para paralegal, pediram meu currículo verdadeiro com minha experiência de advogada para mandar pra sede do meu escritório nos EUA e contaram essa experiência na hora de fazer o meu contrato de paralegal, então eu já comecei como paralegal sênior.

Muita atenção para essa parte de “responsabilities” no campo de experiência profissional. Como eu já disse acima, não adianta nada vc dizer que era o bambambam da advocacia no Brasil se está aplicando pra vagas “inferiores”. O ideal é colocar sua experiência em bullet points com frases curtas, tentando ao máximo fazer o link entre o que vc fazia no Brasil e o cargo que está almejando. Ex.: eu no Brasil era responsável por elaborar relatórios de auditoria para clientes. Claro que no Brasil eu fazia isso sozinha com mínima supervisão por conta da minha função, mas de que adianta dizer isso, dizer que eu tinha reuniões com os clientes para analisar orçamento, etc, se eu não teria a mesma autonomia aqui? Então no currículo constava simplesmente: “Preparation of billing, monthly reports to clients and auditing reports”, que efetivamente era o que eu fazia, eu só omitia o grau de responsabilidade. Vale dizer que até hoje faço carta de auditoria como paralegal, só tenho mais supervisão do que tinha no Brasil claro.

Alguns outros exemplos de funções que constavam no meu currículo:

  • Filing and maintaining accurate document records
  • Establishing deadline control
  • Diary management
  • General administrative support, including letters and email correspondence
  • Drafting correspondence, contracts, letters of advice, pleadings and other court documents
  • Liaising with the client to ensure that they comply with federal, state and municipal laws
  • Preparing and/or revising of drafts of contracts, including novation, assignment, and joint ventures
  • Drafting publishing contracts, license and / or assignment agreements
  • Liaising with state and federal regulators on various matters
  • Conducting client interviews and meetings
  • Preparation of legal opinions and reviews
  • Preparation of billing, monthly reports to clients and auditing reports
  • Making presentations to clients
  • Drafting precedent documents
  • Preparation of business plans and attending to business development matters


Detalhe que apesar de eu trabalhar basicamente com contencioso também já trabalhei no jurídico de um banco de investimento no Brasil e no escritório onde trabalhei por quase 10 anos eu já fiz muita coisa de contratos, ambiental, etc, então eu tinha bastante material pra trabalhar no currículo, só colocava de forma mais simplificada.
+
Trabalho voluntário – aqui isso é muito valorizado, então eu colocava o tempo que trabalhei no Procon como voluntária e o trabalho que fiz aqui na Austrália como voluntária no tribunal de justiça (bobo, na verdade eu só ficava na recepção dando informações sobre as audiências, como buscar assessoria jurídica gratuita, etc, mas tava valendo pra embelezar o currículo e colocar algum tipo de "experiência local". haha)
+
Skills – aqui eu colocava a fluência em português e espanhol (por favor, não vá colocar seu nível de inglês! Se vc está aplicando pra uma vaga em inglês o mínimo que se espera é que seu inglês seja fluente. Se vc não tem inglês suficiente nem pra conversar com um recruiter por telefone, pode desistir e ir estudar inglês primeiro), proficiência em programas de informática e outras “administration skills” como:

  • Drafting skills
  • Research
  • Making presentations
  • File management
  • Diary management
  • Dictaphone typing
  • Document formatting
  • Billing


Pra quem não sabe, “dictaphone typing” é transcrever gravação de um advogado com as notas dele de uma fita para o computador. Não sei se isso ainda é muito frequente aqui, no meu escritório não se usa, mas fui em algumas entrevistas que o advogado usava. De novo, só coloque essa “skill” se vc tiver um bom ouvido para transcrever gravação em inglês. Eu me sentia segura pra colocar porque tivemos uma matéria dessas no TAFE e eu percebi que conseguia tranquilamente fazer uma transcrição.

+

Referência – os conselhos se divergem: muito recruiter diz pra não colocar no currículo, muitos dizem pra colocar. Eu acabei colocando, com os dados dos sócios do meu escritório no Brasil em português mesmo. Vcs podem pensar: “ah, mas ninguém vai checar referência em outro pais”. Pior que checa! O recruiter que me colocou nesse escritório que estou hoje mandou um email para as minhas referências com um questionário para eles responderem em inglês sobre minha função lá e se eles me recomendavam mesmo. Então se vc colocar referência, avise a pessoa e, claro, coloque alguém que fale inglês! :)


2) Passada a fase do currículo e cover letter vem a dúvida: tá, e agora pra quem eu mando? Tem vários sites com vaga de emprego, mas eu particularmente acho o Seek o mais completo e só aplicava por lá. Vc pode fazer a busca pela cidade, tipo de vaga, etc, e muitas vezes dá pra aplicar pelo Seek mesmo, outras o anúncio vai ter um email pra vc enviar a cover letter e o currículo. Aí muitos me perguntam: e pra que vagas eu posso aplicar? Isso vai depender da sua experiência e objetivo profissional. Eu aplicava basicamente para:

- receptionist e administrative assistant/administrative clerk (no início, porque depois me dei conta que essas vagas eram “júnior” demais e pagam uma mixaria)

- legal secretary (tenha em mente que a secretária jurídica aqui faz mais do que no Brasil, aqui além de atender o telefone a função inclui: arquivamento de documentos, billing, edição de documentos, agendamento de viagens, atualizacao de sistemas com o time entry dos advogados, etc, e em muitos escritoriós é uma plataforma pra se chegar no cargo de paralegal).

- executive assistant (nesse caso só pra algumas vagas eu conseguia me encaixar, pois a maioria exige experiência mais específica no cargo. Muitas vezes vc pode observar nos anúncios que “executive assistant” tem as mesmas funções de um “legal secretary” ou “legal assistant”, e as vezes é mais qualificado. Então na dúvida, abra a vaga, leia o que é pedido do candidato e se vc consegue se adequar.)

- paralegal e legal assistant (muitas vezes usado como sinonimo, eu confesso que até hoje não entendo se há realmente uma diferença nos cargos. Aqui no meu escritório o meu contrato diz “legal assistant” e na intranet da empresa e na minha assinatura de email diz “paralegal”).

Há ainda outras vagas que dependendo da sua experiência vc pode tentar aplicar e ver se cola, como “debt collector”, “conveyancer”, “contracts coordinator”, etc. Eu particularmente não aplicava pra nada disso porque não conseguia adaptar minha experiência pra essas vagas. Mas se vc tem uma forte experiência em societário, tributário, contratos, pode tentar também algo nessa linha. Já ouvi dizer que, em tese, um advogado estrangeiro também poderia trabalhar como “in-house lawyer” aqui, ou seja, no jurídico interno de uma empresa. Eu nunca tentei (até porque minha experiência era basicamente com contencioso) e nem conheço quem tenha tentado, então não sei dizer se cola.
Ah, detalhe pros advogados que trabalham com contencioso: aqui o contencioso civil funciona de forma bem diferente. Então se vc disser que tinha experiência só com contencioso te limita muitíssimo. O que chamamos de contencioso de Brasil aqui eles chamam muitas vezes de “commercial” ou “full-service corporate” law. Claro que se eu aplicava pra uma vaga em escritório de contencioso eu focava que tinha experiência em “litigation” (como o contencioso é chamado aqui), mas tenha em mente que no common law esse processo é bem diferente do Brasil e envolve um grande trabalho “pre-trial”. Pra vcs terem uma ideia a única vaga que fiz entrevista em “litigation” no dia da entrevista me explicaram que o trabalho era basicamente ficar catalogando evidencias “pre-trial”, renomeando nome de arquivo na “database” do caso, ou seja, totalmente sacal e pagava uma miséria (talvez por isso eles só conseguissem contratar advogados estrangeiros desesperados por uma primeira experiência na Austrália. Ah, e que fique claro que eu estava tão desesperada que estava disposta a aceitar o trabalho. haha Por sorte fui chamada aqui pro meu escritório antes por um salário bem maior e desisti desse processo seletivo).

Como esse post já está enorme, no próximo post vou falar da próxima etapa: a entrevista.

P.S.: Esse post e o próximo são basicamente pra quem tem visto de residência. Nada impede que com outro visto vc consiga uma vaga nessa área, mas tenha em mente que vai ser beeemmm mais difícil.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Exemplo prático de como funciona o plano de saúde privado

No post anterior eu falei sobre como funciona um plano de saúde privado. Hoje vou dar um exemplo prático com valores no caso de gravidez, que é uma pergunta que eu também andei recebendo por email.

Digamos que vc tem a cobertura que englobe a parte obstétrica e já tenha passado seu período de carência para gravidez. Aí o casal descobre a gravidez e a primeira decisão que tem que tomar é: vai ter o bebê pelo sistema público ou pelo privado? Eu escolhi o sistema privado por mil motivos que não vem ao caso pra esse post (mas vcs podem ler mais sobre o assunto na entrevista que dei pro blog Brazil Australia).

Escolhido o sistema privado, o passo a passo é o seguinte: vc escolhe o obstetra, que vai cobrar um valor que varia de $4.000 a 8.000 pra cuidar de toda a gravidez + parto. Além disso vc paga um valor por cada consulta com ele. No caso do meu obstetra essa consulta custava $100, dos quais o Medicare (sistema público do governo) reembolsava uns $70. Lembram que eu falei no outro post que o plano privado só cobre extras e a parte hospitalar? Pois é, via de regra tudo que o Medicare cobre o plano privado não vai cobrir. Então essa diferença vc vai ter que pagar do próprio bolso. Isso inclui esse valor de $4.000 a 8.000 que vc paga pro obstetra – o Medicare só reembolsa uns $450 (ou seja, facada no bolso).

Vc vai na primeira consulta com o obstetra (em torno da 7-8 semana de gravidez), ele faz sua ficha, te pesa, normalmente os obstetras tem uma máquina de ultrassom na sala e ele faz uma ultra simples pra ouvir o coração do bebê. Aí ele te passa um hemograma completo (que é coberto pelo Medicare) e o pedido pra ultra das 12 semanas que faz a checagem de síndrome de down e as primeiras medições do bebê. Essa ultra vc pode escolher onde fazer (não pode ser no consultório do obstetra porque o aparelho deles não é complexo o suficiente além do fato de que quem vai dar o laudo da ultra é um técnico especializado), e o preço varia muito de local pra local. Via de regra o Medicare cobre um valor base (não me lembro mais quanto, mas acho que em torno de $100) e o restante vc paga do próprio bolso. Vc pode ir num laboratório que faça bulk billing (cobre só o valor base do Medicare) ou ir em outro de sua preferência e pagar a diferença. No meu caso, como tive alguns probleminhas acabei optando por um laboratório mais caro porque queria uma precisão maior. Eu pagava em torno de $100 do próprio bolso por cada ultra até a quarta ultra, acho, porque a partir disso o laboratório começou a me cobrar bulk billing porque disseram que eu já tinha pago demais. rs

Aqui o normal no sistema privado são 3 ultras a gravidez toda: 2 diagnósticas com 12 e 20 semanas e outra no último trimestre (muitos médicos podem pular essa última). No meu caso, como eu disse, fiz pelo menos o dobro disso, além de exames de sangue e urina complementares (esses 2 últimos cobertos integralmente pelo Medicare).

Aí vcs perguntam: onde entra o plano privado que até agora não apareceu? Como eu expliquei no post anterior, o plano privado só vai cobrir a parte hospitalar. Se vc faz o acompanhamento da gravidez pelo sistema privado, vc normalmente tem o bebê num hospital privado (se bem que não sei como funciona se vc optar por um birth centre – chamado no Brasil de “casa de parto”).

Aqui um parêntesis: a maioria das mulheres que tem o bebê pelo sistema privado é porque querem cesária eletiva, já que no sistema público a regra é parto normal. Não foi o meu caso porque eu sempre quis parto normal, eu busquei o sistema privado só por conta da gravidez de risco.

Sendo o parto pelo sistema privado, normalmente no inicio do segundo trimestre de gravidez vc tem que preencher um cadastro no hospital privado que seu obstetra atua com a data prevista do parto. Esse hospital vai ser seu ponto de contato para qualquer emergência na gravidez. No meu caso eu fui 2 vezes no hospital, uma delas com risco de parto prematuro. Nenhuma dessas duas vezes paguei nem um centavo: a conta foi direto pro plano de saúde.

Chega o grande dia e é hora do bebê vir ao mundo. O casal vai pro hospital privado (tem que ligar antes pra avisar, by the way), tem o bebê da forma que for e pode ficar 4 noites (se for parto normal) ou 5 noites (se for cesária) num quarto privado na maior comodidade, sem pagar nada por isso. Os únicos gastos extras no parto são com o anestesista (o Medicare cobre uma parte e o restante vc recebe a conta depois em casa) e o pediatra que visita o bebê nos primeiros dias (again, o Medicare cobre uma parte e o restante vc recebe a conta depois em casa). Esses gastos não são cobertos pelo plano privado, mas todo o resto da internação é. No meu caso não tenho do que reclamar: o hospital onde tive o Lucas foi sensacional! A comida era maravilhosa, as enfermeiras muito prestativas, a consultora de amamentação (que dá uma aula a cada 2 dias na maternidade pros novos pais e ainda vai no seu quarto acompanhar e ver se tá tudo correndo bem) foi muito melhor do que eu esperava. Eu só pedi pra sair um dia antes porque não aguentava mais ficar confinada num quarto e queria ir pra minha casa.


Vale a pena então fazer o acompanhamento de gravidez/parto pelo sistema privado? Depende muito do que o casal quer:

1) Se quiser cesária eletiva: sim, melhor fazer pelo privado.

2) Se for gravidez de risco: pode fazer pelo público, mas eu já ouvi muita história de horror, pois o acompanhamento muitas vezes não é dos melhores nesses casos, então eu faria pelo privado.

3) Se for gravidez sem risco: pode escolher o público se vc quiser o acompanhamento mais caloroso das midwives ou o privado se vc quiser um acompanhamento mais técnico de um obstetra.

Minha opinião pessoal: todas as minhas amigas/conhecidas que tiveram pelo sistema público e tiveram algum tipo de complicação tem histórias de horror pra contar do parto e pós parto. Eu, na minha humilde opinião, acho que se vc tiver condição de pagar, é melhor fazer pelo sistema privado com o acompanhamento de um obstetra. Mas talvez essa minha visão seja também influenciada pela minha situação pessoal, pois a regra aqui costuma ser optar pelo sistema público, mesmo que o casal tenha plano privado.


Alguns detalhes pertinentes a esse assunto:

- No sistema público via de regra o quarto é coletivo, mas se vc tiver plano privado pode obter um upgrade para quarto privado e ter algumas outras opções que não sei muito bem porque não escolhi esse sistema, então é melhor vc consultar o seu plano. Não sei se existem hospitais públicos com quarto privado pra paciente sem plano privado, se alguém souber fique a vontade pra comentar.


- Mesmo vc fazendo o acompanhamento pelo sistema privado não garante que o obstetra que te acompanhou na gravidez será quem fará o parto. Aqui não é que nem no Brasil que os médicos ficam a disposição dos pacientes, dão telefone particular, trocam mensagem pelo whatsapp. Se vc tem uma emergência, liga pra clínica/hospital/maternidade, não pro médico. As enfermeiras da clínica/hospital/maternidade é que vão entrar em contato com o médico e ele pode tanto passar as instruções diretamente pra elas ou te ligar, dependendo do caso. Já no parto se for parto normal o obstetra te avisa que se cair no plantão dele ele faz o acompanhamento, senão ele passa pro obstetra que estará de plantão. No meu caso como foi parto induzido, meu obstetra marcou pro dia que ele estava de plantão então ele fez todo o acompanhamento no hospital. Mas na vez que fui pra emergência antes do parto quem me atendeu foi o obstetra de plantão, que trocava informação por telefone com o meu médico.

Lembrando que isso vale para todos os médicos, inclusive pediatra, pro terror das novas mamães acostumadas com o sistema personalizado do Brasil.


- Como eu já comentei em posts anteriores, via de regra aqui não se pedem tantos exames quanto no Brasil. Mas claro que cada caso é um caso e cada médico é um médico e o seu pode ser mais liberal nos pedidos de exame. O meu obstetra mesmo era super cauteloso e me pediu vários exames extras.


- Aqui um parênteses: nem todos os hospitais fazem parto de risco ou prematuro. Se vc estiver pelo sistema público e a gravidez for de risco (gravidez gemelar, mãe com diabetes, pressão alta, etc), vc vai ter que ir pra um hospital público específico. No privado eles normalmente fazem acompanhamento de gravidez de risco normalmente, mas no caso de parto prematuro só fazem a partir de 32 semanas. Se a mulher entrar em trabalho de parto antes disso, só tem 1 hospital em Sydney (isso mesmo, só 1!!) que faz o parto de 24 a 32 semanas de gravidez, que é o Royal Prince Alfred (RPA). Se não der tempo de ir pra lá e o bebê nascer em outro local, mãe e filho são transferidos para o RPA. Imagina então meu desespero quando baixei no hospital privado com 28 semanas de gravidez e a enfermeira me disse que eu estava entrando em trabalho de parto! Pânico total, mas no fim ela se equivocou e foi só alarme falso.

Agora imagina quem mora em uma cidade menor?? Em caso de parto de risco tem que transferir a grávida de avião pra cidade grande mais próxima. Medo!


Espero que tenha dado pra ter uma ideia mais clara de como funciona o sistema público/privado de saúde na Austrália. É muito diferente do Brasil, e eu até hoje peno um pouco pra me acostumar, mas tenho achado até melhor, sabe? Mais focado na prevenção, sem aquele bombardeio de remédios (pra bebê então, quando eu comparo o que o meu médico já receitou pro Lucas e o que vejo pediatras no Brasil receitando é um abismo de diferença), sem aquela bateria de exames desnecessários. Claro que é difícil de se acostumar em não ter o seu médico de prontidão 24 horas, ou poder buscar um especialista a seu bel prazer, mas isso nem me faz falta mais. Existem vários sistemas de atendimento de emergência sem ser os hospitais (o Triple 0, o home doctor, o Parent Line, e muitos outros), fora os os centros médicos que ficam abertos até mais tarde e nos fins de semana (o meu médico GP mesmo atende aos sábados e sem hora marcada).

É difícil se acostumar com o sistema daqui e achar um médico de confiança? Com certeza, me custou uns 3 anos, mas hoje já me sinto segura com uma rede de médicos que confio e tem o meu histórico por aqui. Agora acho estranho é quando vou no Brasil e levo o Lucas a um pediatra que o entope de remédio e me dá conselhos absurdos. Quem diria que eu que já tanto reclamei do sistema de saúde daqui agora até me sinta mais segura na terra do canguru. :)

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Sistema de saúde na Austrália

Já falei disso no blog algumas vezes (aqui, aqui, aqui e aqui), mas como sempre recebo emails perguntando sobre esse assunto, resolvi escrever algumas informações adicionais que fui pegando no decorrer dos anos.

Como eu já falei por aqui, o sistema público na Austrália (o Medicare) é muito bom e muita gente mesmo com grana acaba nem fazendo um plano privado. Basicamente o plano privado serve para cobrir serviços que o Medicare não cobre: dentista, acupuntura, quiroprata, naturopata, massagem terapêutica, oftalmologia (o Medicare cobre o exame de vista em si, mas não o óculos/lente), etc. Esses são os chamados “extras cover”, que o plano privado vai cobrir se vc escolher essa opção e dentro dessa opção existem várias possibilidades de cobertura.

Vou colocar aqui a tabela de um dos planos privados (o Medibank) pra vcs terem uma ideia das opções quanto aos “extras cover”:




Além desses extras, vc também pode escolher dentre diversos tipos de cobertura para a parte hospitalar, que pode incluir ou não cirurgias especificas, tratamento de IVF (fertilizacao em vitro), obstetrícia.

Vou colocar aqui a tabela do Medibank pra vcs terem uma ideia das opções quanto aos “hospital cover”:




Outras coisas que se tem que ter em mente na escolha do plano de saúde privado são:


Carência

Todos os planos tem um período de carência chamado de “waiting period”. Essa carência funciona como no Brasil, podendo variar de poucos meses a mais de 2 anos dependendo do serviço a ser prestado. Na foto acima com as coberturas extras do Medibank vc pode ver também a carência para cada item. Então é bom checar isso se vc estiver pensando em fazer o plano pra usar um item especifico no curto prazo.


"Excess"

É tipo uma franquia, o valor anual que vc vai ter que pagar para usar a parte hospitalar do plano. Por exemplo: se vc opta pelo plano com excess de $250, quando vc precisar acionar o plano para a parte hospitalar vc vai ter que pagar esse valor do seu bolso. Essa franquia só é paga uma vez por ano, então se vc usar o hospital digamos em Janeiro, Julho e Dezembro de 2015, vc só vai pagar uma única vez esses $250. Um fato curioso é que apesar do ano fiscal na Australia ser de Julho a Junho, no caso dos planos de saúde o período anual vai de Janeiro a Dezembro.

Claro que quanto menor o excess (que pode ser até zero), mais vc paga mensalmente de plano.


Percentagem de “claim back” para extras

No caso do “extras cover” vc também vai ter que escolher a percentagem que o plano vai te reembolsar, que no caso do Medibank pode ser 55%, 70%, 85% ou 100%.
Exemplo: digamos que vc vá no dentista e a conta fique em $200. Se vc tem o plano de “claim back” 55%, o plano vai te reembolsar $110 e vc vai pagar $90 do próprio bolso. E assim por diante nas demais percentagens.

Aqui, mais uma vez, quanto maior a percentagem de “claim back”, maior o valor pago mensalmente.


“Member’s choice coverage”

São os médicos e hospitais filiados ao plano. A rigor vc pode ir em qualquer médico ou hospital e o plano vai te reembolsar, mas limitado a tabela deles. Se vc vai num dos filiados ao plano, o reembolso é integral pra parte hospitalar. No caso dos extras, os filiados também cobram normalmente um valor menor acordado com o plano, por isso o seu reembolso tende a ser maior.

Eu confesso que nunca fui pesquisar a cobertura dos planos não, pois sempre tive os maiores e mais conhecidos, então imagino que eles tenham a maior cobertura.


Os planos mais famosos são o Bupa e o Medibank, mas existem outros bem conhecidos e o governo disponibiliza um site onde vc pode fazer a comparação entre eles em termos de preço e cobertura.

Eu sinceramente acho eles todos farinha do mesmo saco e os preços são muito parecidos. No meu caso nós fizemos primeiro o Medibank na cobertura básica hospitalar com o mínimo de extra. Depois aumentamos para o “Top hospital cover” quando pensamos em ter filho, pois esse era o único que cobria IVF e obstetrícia, mas mantemos o básico para “extras cover”. Agora recentemente mudamos para o BUPA porque eles tem convénio com a empresa do Thiago e saia mais barato o valor mensal e com cobertura maior de extras.

Quanto ao valor a ser pago mensalmente, vai depender muito do plano que vc escolher, da sua idade, e da sua renda mensal (sim, isso também conta). Se vc for um casal na faixa dos 30 anos, com renda mensal conjunta de uns $90.000-$150.000 por ano, estiver pensando em ter filho e escolher o plano Top Hospital + Extras 55% do Medibank com excess de $250, por exemplo, vai pagar em torno de $300 por mês. Comparado com o valor dos planos no Brasil, eu até acho bem barato.

Ah, e vale dizer que eu uso o Medibank também para seguro de vida e seguro de viagem toda vez que saio do pais (inclusive quando vou pro Brasil, pra não ficar a mercê do SUS caso precise de um tratamento mais caro).

Grande P.S.: Isso tudo que eu falei pode variar para outro estado da Austrália, e só se aplcia pra quem vem com visto de residência. Para outros vistos os tipos de plano de saúde privado são diversos e a cobertura e preço idem.

No próximo post vou dar um exemplo prático de como funciona a cobertura do plano privado.

sábado, 1 de agosto de 2015

Cinema com o bebê em Sydney

Eu simplesmente amo cinema! Batia ponto nas salas alternativas do Rio e ficava em êxtase todo mês de outubro com o festival de cinema. Teve um ano que realizei o sonho de tirar férias durante a semana do festival, comprei o passe de 20 filmes e fiquei que em pinto no lixo assistindo 3 filmes por dia pra dar conta. Na maioria eu ia sozinha, pois apesar do Thiago até gostar bastante, não tinha pique pras minhas maratonas e também não compartilhamos o mesmo estilo (ele até gosta bastante de drama e assiste comédia romântica numa boa – não que esse último seja meu estilo preferido, longe disso, foi só um exemplo de como o Thiago é versátil –, mas meus filmes asiáticos ou mais alternativos são demais pra ele. rs)

Então quando engravidei foi um baque ter que reduzir minhas incursões ao cinema. Sim, eu sei que grávida pode ir no cinema tranquilo, mas vamos convir que ter que levantar mil vezes pra ir no banheiro durante o filme não é nada agradável. Fora que minha barriga ficou gigantesca e era bem desconfortável (pra não dizer doloroso) ficar sentada por 2 horas seguidas.

Assim já na gravidez reduzi drasticamente minhas incursões ao cinema e também fiquei sem paciência pra assistir filme em casa – o baby brain acabava comigo. Quando o Lucas nasceu isso só piorou, claro, como ir no cinema com um bebê? E se ele chorasse? E se precisasse amamentar/trocar fralda/ ninar pra dormir?

Eis que eu descobri as sessões de mães e bebês aqui (no Brasil também tem, por sinal, pelo menos nas capitais eu sei que tem). Fiquei meio apreensiva de ir a primeira vez, acho que o Lucas tinha uns 2 meses e meio. Mas foi super tranquilo, nessa idade eles ainda dormem bastante e quando ele acordava era só pra mamar.

Em Sydney existem duas opções: no Hoyts, cuja sessão se chama “mums and bubs”, e no Events Cinema, onde a sessão se chama “bring your baby”.

Eu fui na do Events cinema e funciona assim:

- as sessões são as segundas e sextas as 10:30 da manhã e quarta as 12:30, cada semana é um filme diferente (a maioria blockbuster, mas eu também não posso exigir muito, né? rs)

- vc paga $10 (menos da metade da sessão normal) e tem direito a duas poltronas numeradas. Como vem a calhar essas duas poltronas pra colocar as tralhas do bebê!

- vc não pode levar o carrinho pra dentro da sala, dependendo do tamanho desta. Se for pequena vc tem que deixar o carrinho do lado de fora e entrar só com o bebê (e as tralhas). No primeiro dia que eu fui inventei de comprar pipoca e refrigerante (como tava com desejo depois de séculos sem comer!), agora imagina a cena: eu com bebê no colo, mais bolsa dele, mais cobertor dele, mais pipoca e refrigerante. Faltou mão, né? No último filme que vi a sala era enorme e dava pra deixar os carrinhos na parte da frente embaixo das cadeiras. Detalhe que muitas mães deixavam os bebês dormindo no carrinho e iam sentar numa poltrona lá em cima, de onde nem dava pra ver o bebê! Como é descansado esse povo daqui…

- as sessões não são exclusivas para mães com bebês, pode entrar qualquer um, mas eles avisam que é uma sessão especial e as pessoas vão ter que ser mais tolerantes se os bebês chorarem. Nunca vi alguém reclamar, muito pelo contrário, já vieram me parabenizar e as minhas amigas pelos nossos bebês não terem soltado nem um pio o filme todo.

- das duas primeiras vezes que fui, como tinha pouca gente, perguntaram a mim e as outras mães se preferíamos que as luzes da sala ficassem parcialmente acesas pra facilitar cuidar dos bebês. Mas a luz apagada não atrapalhava não, ainda tinha bastante luz da tela e as luzes laterais.

- como o Lucas era bem pequeno no primeiro filme, ele ficou um pouco assustado quando tinha barulho muito alto, mas nada a ponto de chorar. Por outro lado a luz da tela o hipnotizou. Já no segundo filme ele dormiu e teve um pesadelo e acordou aos gritos! Por sorte eu já tava prevendo isso (pois acontecia direto) e me antecipei e saí da sala com ele, acalmei ele lá fora e depois voltei (perdi a parte final do filme, mas como era a porcaria do Cinquenta Tons de Cinza nem me importei).

- no último filme que vi (Aloha, um dos piores filmes que eu já vi na vida, por sinal) o Lucas dormiu por 3 horas seguidas! Um verdadeiro milagre! Pena que o filme era tão ruim… Em compensação nesse dia a sala tava bem cheia de bebês e muitas mães não saíam quando seus bebês choravam, então virou uma sinfonia paralela ao filme e me dificultou bastante entender algumas partes – nem podem colocar a culpa no meu inglês porque estava com uma amiga australiana e ela também boiou em várias partes. Se bem que pode ser também porque o roteiro era ruim demais e não tinha pé nem cabeça mesmo.

Quero muito ir de novo, se bem que agora com o Lucas maior e mais móvel acho que vai ficar mais difícil mantê-lo na cadeira comigo por 2 horas. Se bem que eu já vi num dos filmes um pai com crianças maiores e ele estendeu uma manta no chão e ficou com as crianças ali engatinhando. Vamos ver se funciona comigo.