terça-feira, 7 de janeiro de 2014

"Da relação entre limpar seu próprio banheiro e abrir sem medo um Mac Book no ônibus"

Se trocar “Holanda” por “Australia”, esse texto retrata muito do que penso.

Vale a pena ler e refletir: http://www.ducsamsterdam.net/da-relacao-entre-limpar-proprio-banheiro-abrir-sem-medo-mac-book-onibus/.

Há uns dias atrás entrei numa discussão no grupo de brasileiros do facebook por causa de alguns comentários discriminatórios. Eu detesto entrar nessas discussões, em parte porque não tenho a menor paciência para pessoas estúpidas e ignorantes. Muito menos para machistas, misóginos, racistas, homofóbicos e afins.

A discussão em questão começou com um rapaz dizendo que estava prestes a ser mandado embora de seu trabalho de cleaner por conta de um colombiano que lhe sacaneou. Já começou errado ao individualizar a nacionalidade, pois se alguém lhe sacaneou no trabalho não foi porque era colombiano, indiano, argentino, ou a nacionalidade que seja. Tenho horror a essas generalizações. Mas daí vieram os comentários generalizando os colombianos, do tipo: “Nossa...experiência péssima com colombianos também. São uns coitados pq limpar chão é o trabalho da vida deles.” “E isso mesmo, eles pensam pequeno, pra eles trabalho de cleaner e suficiente, acho que isso e o maximo que eles conseguem pra vida deles.” “Pessoas egoístas e gananciosas. Vem muito colombiano papupérrimo que vende as cuecas pra trabalhar de cleaner em Sydney. Não falam nada de ingles e nem querem aprender.” “Nos desconfiamos que ele quer arrumar intrigas pra poder justamente por colombianos pra trabalhar la, e o que voce disse ne panela, eu agora odeio essa raça.” (tudo sic, claro)

Nesse momento algumas pessoas começaram a reclamar do cunho discriminatório dos comentários, inclusive eu, e começou o bate-boca, recheado de muitos erros de português, claro, e frases que sequer se consegue entender. Sim, porque pra algumas pessoas custa entender que se vc não consegue se expressar direito nem em português, fica difícil aprender outro idioma. Eu me policio bastante pra não ficar corrigindo os outros e passar pela chata implicante, mas que me dói a alma ler/ouvir gente assassinando o português, isso me dói...rs

Uma das meninas que comentou foi bem mais incisiva na revolta contra os comentários discriminatórios, e recebeu como resposta um “vc não tem roupa pra lavar em casa, não?” Sim, claro, porque a função da mulher é lavar roupa em casa, e não se meter em discussões ideológicas. Quando eu disse que esse comentário foi machista, claro que foi minha vez de ser atacada e o cidadão ainda escreve “não quis ser machista em momento algum (apesar de umas ai merecerem)”. Quer dizer, mulher que é atacada merece, afinal ela é mulher, esse ser inferior! Não vou nem entrar na questão do machismo na sociedade brasileira, pois isso daria outro post. Mas vale uma lida o texto do Gregorio Duvivier na coluna da Folha dessa semana.

Claro que a discussão no facebook não levou a lugar nenhum, e eu quase me arrependi de ter entrado nela. Mas as vezes penso que não dá pra ficar calado e se omitindo sempre que vir alguém sendo discriminatório. É pela omissão que o mundo continua tão problemático... Eu que sempre me considerei sem preconceitos, a cada dia abro mais minha mente ao conviver numa sociedade tão heterogenia quanto a australiana.

Voltando ao texto sobre igualdade social, isso é uma coisa que custa a muitos brasileiros entender. Mesmo os que vem pra cá e tem que trabalhar de cleaner, garçom, ajudante de obra, o fazem muitas vezes achando que aquele é um trabalho menor e temporário. Só que essa não é a mentalidade dos australianos. Qualquer trabalho é digno, muitos cleaners (nem vou falar de pedreiro, encanador, pois esses ganham muito melhor do que muito arquiteto, engenheiro, e qualquer outra profissão que demande uma faculdade mais longa) tem uma vida confortável e de classe média. O que sinto aqui é que mesmo os verdadeiramente ricos não esbanjam, é feio socialmente se mostrar superior ao outros. Chamar a sua faxineira de empregada (maid em inglês) é feio por denotar uma subserviência, e portanto inaceitável! Seu chefe dificilmente vai te dar uma ordem, ele sempre vai dizer: “vc pode por favor fazer tal coisa?”, mesmo que seja sua obrigação aquela tarefa e vc não esteja fazendo nenhum favor a ele.

Não estou dizendo com isso que a Austrália seja o paraíso e que aqui não exista machismo, discriminação e exploração. Claro que existe! O ser humano pode ser cruel e mesquinho, independente de sua nacionalidade ou raça. Mas aqui isso não é considerado natural, não é aceitável e quem comete tais atos é visto como a exceção a ser condenada social e legalmente, e não como a regra que já está tão entranhada na sociedade brasileira que chega a ser vista como normalidade.

Como eu já escrevi nesse blog mais de uma vez, o Brasil infelizmente não vai mudar enquanto os brasileiros não compreenderem o conceito básico de welfare e igualdade social.

11 comentários:

  1. Concordo com você. Odeio preconceitos de qualquer tipo.
    Boa semana para você.

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  2. Quedê botão de like nessas horas?

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    1. Se eu soubesse como se faz isso... Não quer me dar umas aulas não? ;)

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  3. Já tinha lido esse artigo pela minha perigrinação de blogs e simplesmente mudou muito a minha visão do mundo, já usei essa frase diversas vezes "lavar o próprio banheiro está diretamente ligado com andar com seu macbook no metro" a usei esse final de semana numa carreta eleitoreira em um interior aqui no Pará. Muita coincidência!! Não falei no palanque, mas sim numa conversa informal.

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  4. Btw qual o grupo do face?

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    1. O grupo é esse: https://www.facebook.com/groups/brasileirosemsydney/

      Se bem que eu se fosse vc não perdia seu tempo entrando, 80% do que rola por lá é inacreditavelmente ruim. Eu digo que vou sair do grupo todos os dias... Só não fiz ainda porque, bem, sei lá, devo ser meio masoquista. :)

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  5. Eu adoro seu blog!!!
    De todos os que leio, de brasileiros na Austrália, é o que mais me identifico e que leio mais, por conta da frequência dos posts.
    Sou estudante de Direito do 7º semestre, e me ajudou bastante em algumas coisas, sem contar os posts engraçados que me divertem.
    Nunca fui à Austrália, mas, é o preferido para o intercâmbio e possível imigração.
    É complicada toda essa história de preconceito, igualdade social, já que a maioria dos brasileiros parece já vir pré-programado com esse tipo de besteira (por conta que ninguém é melhor do que ninguém, e não pela importância do assunto!) e discriminação. Deve ser maravilhoso morar em um lugar em que todo o tipo de profissão é valorizado, pessoas educadas, organizadas, e que a maioria (ou quase ninguém) quer passar a perna em ninguém ou dar um jeitinho pra ter alguma vantagem.
    Boa semana!!!
    Beijos :))

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    1. Obrigada, Suzane!

      Eu estava lendo outro dia sobre o programa “Ciência sem fronteiras”, que traz estudantes pra estudar na Austrália. Acho (só acho) que ele não se aplica para Direito (isso sempre me incomodou quando estava na faculdade, era tão difícil achar um programa de intercâmbio estudantil...), mas de repente tem outros programas que podem se aplicar e vc consegue fazer um intercâmbio aqui. Certamente iria te ajudar bastante num futuro processo de imigração. :)

      Bjs, Denise

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    2. Eu li bastante sobre o programa também, mas, COMO SEMPRE, não se aplica =/ hahaha isso é muito chato.
      Ainda estou à procura de algum curso, se nada surgir, vou depois de me formar, pq ai vou ter grana suficiente.
      E uma perguntinha (abusada né?!), você resolveu validar o diploma?
      Beijos :)

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    3. Não validei não Suzanne, estou partindo pra outra carreira. :)

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