segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Minha experiencia como garçonete e babá (parte II)

Continuando o post anterior, vou falar sobre os trabalhos de garçonete e babá, que foi o que eu efetivamente fiz.

4) Waiter: dependendo do local de trabalho precisa do RSA, que é a licença necessária para se trabalhar em local que sirva bebida alcoólica. Assim como o White Card essa licença se tira fácil com um curso de 1 dia (mas pode ser online) pago (em torno de $100). Normalmente exige um nível mínimo de inglês porque vc vai lidar com o público e o salário varia muito desde locais que exploram e pagam $17 até $30 por hora em restaurantes mais finos. Na grande maioria das vezes exige experiencia, mas todo mundo dá uma mentida nesse quesito pra conseguir o primeiro emprego. Só detalhe que a maioria dos restaurantes exige que o garçom carregue 3 ou mais pratos de uma vez, o que não é tão fácil como parece.
Tem outros empregos na área de hospitality como: 1) kitchen hand (ajudante de cozinha) que costuma exigir pouco inglês mas paga pouco também; 2) glasser (quem trabalha em bar apenas lavando e secando copo de vidro – super interessante! #sóquenão); 3) atendente de bar (que normalmente trabalha a noite/madrugada; 4) runner (a pessoa que só entrega comida na mesa, ou seja, pega o prato pronto na cozinha e leva pra mesa, mas não interage com o cliente como o garçom, por isso costuma exigir menos inglês mas paga pouco também; 5) barista (quem faz café), este que paga bem mas requer muita, mas muita habilidade porque a questão não é só saber fazer café, mas fazer com uma rapidez imensa pra atender a demanda de uma cafeteria na hora do rush. Eu aprendi a fazer café num restaurante que trabalhei, e fazia modestamente bem, mas nunca ia conseguir fazer rápido o suficiente pra trabalhar como barista exclusivamente. Só fazia no restaurante porque era um ou outro café servido ao fim da refeição.

Minha experiencia foi assim: mandei trocentos currículos pra café/restaurante e não conseguia nada, até porque eu não tinha experiencia e nem sabia carregar 3 pratos. Daí um amigo brasileiro que trabalhava num café/restaurante me indicou pra dona (essa é a melhor forma de conseguir esses empregos aliás). Comecei com alguns poucos shifts (turnos) de trabalho e aos poucos fui pegando experiencia e pegando mais horas. O café funcionava de 7 da manha as 3 da tarde, e como servia bebida alcóolica no almoço eu tive que tirar o RSA. Como o café ficava a uns 20 minutos andando da estacão de trem mais próxima, eu madrugava pra chegar lá cedo. Mas o local era ótimo, despojado, o pessoal uma simpatia (tinham até 2 brasileiros trabalhando lá de garçom) e pagava bem, especialmente pra mim que não tinha experiencia. As gorjetas eram poucas (australiano não costuma deixar gorjeta boa, isso quando deixa, a não ser que seja em restaurante mais fino) mas eles faziam festas privadas (function) também a noite e eu muitas vezes fui escalada, até porque meu visto não tinha limitação de horas pra trabalhar, então eu conseguia tirar um bom dinheiro na semana. Eu adorava trabalhar lá, bater papo com os clientes, tinha uma vista incrível pra baía, mas eu trabalhava muito! Cheguei a pegar shift em que comecei as 7 da manha, parei as 4 da tarde e voltei as 6 pra function onde fiquei até 1 da manha trabalhando, em pé e carregando bandeja pesada, sendo que no dia seguinte pegava as 7 da manha de novo. Foi punk! Fora que nessa área de hospitality é regra trabalhar sábado, domingo e feriado. Esse café fechava no inverno, então quando fecharam eu fui procurar outro emprego e, como já tinha experiencia, arrumei logo num restaurante fino de frutos do mar, num outro bairro mas também de frente pra baía. Esse pagava ainda melhor e mesmo com as horas limitadas (eles só abriam de 12-15hrs pro almoço e de 18-21hrs pro jantar) eu conseguia tirar um bom dinheiro porque nos sábados e domingos recebia um ótimo adicional (feriado a hora era paga em dobro! Tinha briga pra ver quem ia trabalhar em feriado. rs) e as gorjetas eram ótimas! Cheguei a tirar $100 de gorjeta numa única noite! Eles ainda me davam comida depois do turno de trabalho (o café também dava, mas era sanduíche e tal, enquanto nesse restaurante era comida fina. Haha Muitas vezes cheguei em casa tão exausta que não tinha vontade nem de comer, e a comida ficava pro Thiago, que amava claro.) e deram a roupa pra trabalhar lá (basicamente uma camisa preta com o logo do restaurante e avental). Eu adorava trabalhar lá também, e poder conversar com os clientes melhorou muito o meu inglês. Só que quando o Thiago começou a trabalhar, o fato de eu trabalhar a noite e mais todo sábado, domingo e feriado começou a pesar porque passei a não conseguir mais encontrar com o Thiago em casa. Isso somado com o início do inverno (que eu sempre fico depressiva aqui, como já contei no blog várias vezes. rs) e a situação começou a ficar insustentável. Daí pedi as contas lá e me matriculei no TAFE, onde fiz o curso de legal services por 5 meses e logo em seguida arrumei um emprego no escritório de advocacia que estou hoje.
Nesse meio-tempo que trabalhei nos restaurantes, fazia também alguns bicos com empresas de function, que nada mais são do que empresas contratadas para servir comida/bebida em grandes eventos como shows, jogos de futebol/rugbi, etc. Tem várias desse tipo em Sydney, basta fazer uma rápida busca na internet. No meu caso a que eu me cadastrei foi a National Workforce. Funcionava assim: eu fiz o cadastro lá, fui numa entrevista (ridiculamente simples, não me pediram nem experiencia na área) e entrei no banco de dados dele. Quando tinha um evento que eles precisavam de gente, eles mandavam um SMS avisando e os primeiros que ligassem iam preenchendo as vagas. Como eram normalmente mega eventos, abriam muitas vezes dezenas de vagas pra um determinado evento. Eu se não me engano peguei 2: um show de rugbi e um festival de música eletronica. Em ambos os trabalhos foram simples e o pagamento por horas trabalhadas. Só consegui pegar esses 2 porque nessa época cheguei a cumular 4 empregos! (o do café, o do restaurante mais fino, o de babá e os bicos que fazia a distancia pro meu antigo escritório no Brasil).

5) Babysitter/nanny: teoricamente se costuma exigir um certificado de primeiros socorros (first aid) e o working with children check, além de experiencia, mas na prática, se rolar indicação de outras mães, é fácil conseguir sem esses documentos. Normalmente paga entre $20 e $30 a hora e pode ser um trabalho casual (quando os pais vão sair a noite ou no fim de semana) ou fixo (quando os pais trabalham e preferem deixar a criança com uma babá ao invés de na creche). Existe também as au pair, que moram de graça na casa da família em troca de cuidar das crianças da casa recebendo uma ajuda de custo em torno de $200-$250 por semana. Apesar de existirem au pair brasileiras, não é muito comum porque é difícil conciliar a função com as aulas da escola e cuja presença é necessária para viabilizar o visto de estudante. Normalmente é mais comum que as meninas que trabalham de au pair sejam de países que possuem o working holiday visa.
Eu não tinha muito tempo livre pra me focar em trabalho de babá, e nem experiencia ou as licenças necessárias, então nunca foi minha meta esse tipo de trabalho. Mas daí o gerente do café que eu trabalhava veio me oferecer pra cobrir a esposa dele como babá na casa da família que ela trabalhava enquanto ela estivesse de férias. Topei e foi maravilhoso! Na verdade eu não era bem babá e sim “mothers helper”, ou seja, ficava lá junto com a mãe das crianças só para auxiliá-la na rotina da tarde/noite (já que o pai só chegava depois que as crianças já estavam dormindo). Então eu começava as 5pm, ficava brincando com as crianças enquanto a mãe preparava o jantar ou fazia coisas dela na casa, depois ajudava a dar o jantar pras crianças, ajudava no banho e colocava as crianças pra dormir, terminando por volta de 8:15pm. As crianças não eram tão pequenas, tinham 4 e 7 anos, então era ainda mais fácil porque eles eram bem independentes. Quando eu ficava lá de bobeira ia ajudar a arrumar o quarto das crianças, a pendurar roupa no varal, coisas simples só pra me manter ocupada. Fiquei lá por 1-2 meses, e depois no ano seguinte quando a babá regular saiu de férias novamente cobri ela mais uma vez. No terceiro ano a mãe me chamou de novo, mas eu já estava grávida do Lucas e morando no Shire, bem mais longe e ficaria inviável o deslocamento, daí indiquei outra menina pro meu lugar. Foi uma experiencia ótima, as crianças eram uns amores e ficamos tão apegados mesmo em pouco tempo que me deu um dó deixá-los...

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Uma coisa que eu queria deixar claro com esse post sobre a minha experiencia é que aqui na Austrália, diferente do que ocorre no Brasil, nenhum emprego é considerado subemprego. Todos tem seu valor e um garçom vai receber o mesmo tratamento cordial de um advogado. Inclusive existem muitos estudantes de curso superior que trabalham nesses empregos durante a faculdade por conta dos horários flexíveis. Um exemplo é uma advogada recém formada no meu escritório que enquanto fazia a faculdade de direito e um estágio não remunerado de paralegal trabalhava de garçonete num pub a noite. E isso mesmo a família dela sendo podre de rica! Humildade e respeito ao próximo são características muito valorizadas por aqui e por causa da não disparidade de salários vc vai encontrar num mesmo restaurante o executivo de uma empresa e o barista/garçom/cleaner almoçando por lá.
Claro que tem muitas nuances envolvidas nesses empregos, e muita gente com experiencias bem variadas, mas em linhas gerais essas foram as minhas impressões e a minha experiencia.

8 comentários:

  1. Excelente sequência de posts sobre trabalhos! Estou indo pra Sydney em dezembro, como PR, e fico bem receosa de não conseguir logo emprego na área (IT). Mas penso seriamente em entregar meu currículo na primeira loja que aparecer na minha frente e trabalhar como shop assistant. :) A dúvida agora é como fazer o CV de vendedora, experiência de 20 anos atrás. :D Agradeço por cada post que faz, são muito esclarecedores, ajudam muito!

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    1. Oi Marystela,

      Se vc vem com PR e ainda mais de IT, tenta focar em conseguir algo na sua área por uns meses. Porque o maior problema desses empregos casual é que te sugam muito e não sobra tempo pra procurar emprego na sua área de forma eficaz. :)
      Quanto ao currículo, a maioria das pessoas conta uma mentirinha básica pra conseguir o primeiro emprego nessa área. Depois do primeiro vc deslancha. Boa sorte!

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  2. olá Denise tudo bem?
    Gostei muito do seu blog e estou planejando fazer um curso de inglês na Austrália por seis meses. Achei o seu blog através de um comentário que você fez em um outro post sobre remédios em viagens. Você dizia que o anticoncepcional que você tomava aqui era vendido ai tbm, qual o nome do seu remédio? tenho dúvidas de como vou levar o meu.
    Obrigada.

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    1. Oi Jéssica. O meu era o Diane. Se vc vem só por 6 meses, melhor trazer estoque do remédio pra esse período. A imigração não costuma implicar com anticoncepcional, mas na dúvida traz uma receita do seu médico daí traduzida pro inglês. Pra comprar anticoncepcional aqui precisa de receita de um médico australiano, então vc teria que ir no GP (clínico geral) aqui e pedir a receita (se vc mostrar a que vc toma no Brasil eles conseguem achar uma igual ou parecida pela composição técnica da pílula). É simples, mas essa consulta com o GP é paga então é sempre mais fácil trazer a pílula do Brasil se vc vai ficar aqui menos de 1 ano.

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  3. Oi, Denise! Adorei o seu post! Realmente aqui todos os trabalhos são valorizados e isso é muito bom! Quando vc fez o TAFE de legal service, vc era residente permanente? Tb sou advogada, estou melhorando o meu inglês e pretendo tb fazer um TAFE para me inserir no mercado de trabalho, mas alguns cursos só podem ser feitos por residente permanente. Se vc puder, dps faça um post falando como é o seu trabalho, os seus desafios e pontos positivos em relação ao Brasil. Muito obrigada!

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    1. Oi Paloma. Sim, eu já vim pra cá como residente permanente. Eu tenho amigas que fizeram o curso de legal services e não eram residentes, estavam no partner visa, talvez se aplique pra visto de estudante também. Vou fazer um post sobre meu trabalho sim! Obrigada pelo comentário!

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  4. "Uma coisa que eu queria deixar claro com esse post sobre a minha experiencia é que aqui na Austrália, diferente do que ocorre no Brasil, nenhum emprego é considerado subemprego. " Isso deveria ser normal...Pena que aqui é tudo tão diferente! Muito triste...

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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