4) Waiter:
dependendo do local de trabalho precisa do RSA, que é a licença necessária para
se trabalhar em local que sirva bebida alcoólica. Assim como o White Card essa
licença se tira fácil com um curso de 1 dia (mas pode ser online) pago (em
torno de $100). Normalmente exige um nível mínimo de inglês porque vc vai lidar
com o público e o salário varia muito desde locais que exploram e pagam $17 até
$30 por hora em restaurantes mais finos. Na grande maioria das vezes exige
experiencia, mas todo mundo dá uma mentida nesse quesito pra conseguir o
primeiro emprego. Só detalhe que a maioria dos restaurantes exige que o garçom
carregue 3 ou mais pratos de uma vez, o que não é tão fácil como parece.
Tem outros
empregos na área de hospitality como: 1) kitchen hand (ajudante de cozinha) que
costuma exigir pouco inglês mas paga pouco também; 2) glasser (quem trabalha em
bar apenas lavando e secando copo de vidro – super interessante! #sóquenão); 3)
atendente de bar (que normalmente trabalha a noite/madrugada; 4) runner (a
pessoa que só entrega comida na mesa, ou seja, pega o prato pronto na cozinha e
leva pra mesa, mas não interage com o cliente como o garçom, por isso costuma
exigir menos inglês mas paga pouco também; 5) barista (quem faz café), este que
paga bem mas requer muita, mas muita habilidade porque a questão não é só saber
fazer café, mas fazer com uma rapidez imensa pra atender a demanda de uma
cafeteria na hora do rush. Eu aprendi a fazer café num restaurante que
trabalhei, e fazia modestamente bem, mas nunca ia conseguir fazer rápido o
suficiente pra trabalhar como barista exclusivamente. Só fazia no restaurante
porque era um ou outro café servido ao fim da refeição.
Minha
experiencia foi assim: mandei trocentos currículos pra café/restaurante e não
conseguia nada, até porque eu não tinha experiencia e nem sabia carregar 3 pratos.
Daí um amigo brasileiro que trabalhava num café/restaurante me indicou pra dona
(essa é a melhor forma de conseguir esses empregos aliás). Comecei com alguns
poucos shifts (turnos) de trabalho e aos poucos fui pegando experiencia e
pegando mais horas. O café funcionava de 7 da manha as 3 da tarde, e como
servia bebida alcóolica no almoço eu tive que tirar o RSA. Como o café ficava a
uns 20 minutos andando da estacão de trem mais próxima, eu madrugava pra chegar
lá cedo. Mas o local era ótimo, despojado, o pessoal uma simpatia (tinham até 2
brasileiros trabalhando lá de garçom) e pagava bem, especialmente pra mim que
não tinha experiencia. As gorjetas eram poucas (australiano não costuma deixar
gorjeta boa, isso quando deixa, a não ser que seja em restaurante mais fino)
mas eles faziam festas privadas (function) também a noite e eu muitas vezes fui
escalada, até porque meu visto não tinha limitação de horas pra trabalhar,
então eu conseguia tirar um bom dinheiro na semana. Eu adorava trabalhar lá,
bater papo com os clientes, tinha uma vista incrível pra baía, mas eu
trabalhava muito! Cheguei a pegar shift em que comecei as 7 da manha, parei as
4 da tarde e voltei as 6 pra function onde fiquei até 1 da manha trabalhando,
em pé e carregando bandeja pesada, sendo que no dia seguinte pegava as 7 da
manha de novo. Foi punk! Fora que nessa área de hospitality é regra trabalhar
sábado, domingo e feriado. Esse café fechava no inverno, então quando fecharam
eu fui procurar outro emprego e, como já tinha experiencia, arrumei logo num
restaurante fino de frutos do mar, num outro bairro mas também de frente pra
baía. Esse pagava ainda melhor e mesmo com as horas limitadas (eles só abriam
de 12-15hrs pro almoço e de 18-21hrs pro jantar) eu conseguia tirar um bom
dinheiro porque nos sábados e domingos recebia um ótimo adicional (feriado a
hora era paga em dobro! Tinha briga pra ver quem ia trabalhar em feriado. rs) e
as gorjetas eram ótimas! Cheguei a tirar $100 de gorjeta numa única noite! Eles
ainda me davam comida depois do turno de trabalho (o café também dava, mas era
sanduíche e tal, enquanto nesse restaurante era comida fina. Haha Muitas vezes
cheguei em casa tão exausta que não tinha vontade nem de comer, e a comida
ficava pro Thiago, que amava claro.) e deram a roupa pra trabalhar lá
(basicamente uma camisa preta com o logo do restaurante e avental). Eu adorava
trabalhar lá também, e poder conversar com os clientes melhorou muito o meu
inglês. Só que quando o Thiago começou a trabalhar, o fato de eu trabalhar a
noite e mais todo sábado, domingo e feriado começou a pesar porque passei a não
conseguir mais encontrar com o Thiago em casa. Isso somado com o início do
inverno (que eu sempre fico depressiva aqui, como já contei no blog várias
vezes. rs) e a situação começou a ficar insustentável. Daí pedi as contas lá e
me matriculei no TAFE, onde fiz o curso de legal services por 5 meses e logo em
seguida arrumei um emprego no escritório de advocacia que estou hoje.
Nesse
meio-tempo que trabalhei nos restaurantes, fazia também alguns bicos com
empresas de function, que nada mais são do que empresas contratadas para servir
comida/bebida em grandes eventos como shows, jogos de futebol/rugbi, etc. Tem
várias desse tipo em Sydney, basta fazer uma rápida busca na internet. No meu
caso a que eu me cadastrei foi a National Workforce. Funcionava assim: eu fiz o
cadastro lá, fui numa entrevista (ridiculamente simples, não me pediram nem
experiencia na área) e entrei no banco de dados dele. Quando tinha um evento
que eles precisavam de gente, eles mandavam um SMS avisando e os primeiros que
ligassem iam preenchendo as vagas. Como eram normalmente mega eventos, abriam
muitas vezes dezenas de vagas pra um determinado evento. Eu se não me engano
peguei 2: um show de rugbi e um festival de música eletronica. Em ambos os trabalhos
foram simples e o pagamento por horas trabalhadas. Só consegui pegar esses 2
porque nessa época cheguei a cumular 4 empregos! (o do café, o do restaurante
mais fino, o de babá e os bicos que fazia a distancia pro meu antigo escritório
no Brasil).
5)
Babysitter/nanny: teoricamente se costuma exigir um certificado de primeiros
socorros (first aid)
e o working with children check,
além de experiencia, mas na prática, se rolar indicação de outras mães, é fácil
conseguir sem esses documentos. Normalmente paga entre $20 e $30 a hora e pode
ser um trabalho casual (quando os pais vão sair a noite ou no fim de semana) ou
fixo (quando os pais trabalham e preferem deixar a criança com uma babá ao
invés de na creche). Existe também as au pair, que moram de graça na casa da
família em troca de cuidar das crianças da casa recebendo uma ajuda de custo em
torno de $200-$250 por semana. Apesar de existirem au pair brasileiras, não é
muito comum porque é difícil conciliar a função com as aulas da escola e cuja presença
é necessária para viabilizar o visto de estudante. Normalmente é mais comum que
as meninas que trabalham de au pair sejam de países que possuem o working
holiday visa.
Eu não tinha
muito tempo livre pra me focar em trabalho de babá, e nem experiencia ou as licenças
necessárias, então nunca foi minha meta esse tipo de trabalho. Mas daí o
gerente do café que eu trabalhava veio me oferecer pra cobrir a esposa dele
como babá na casa da família que ela trabalhava enquanto ela estivesse de
férias. Topei e foi maravilhoso! Na verdade eu não era bem babá e sim “mothers
helper”, ou seja, ficava lá junto com a mãe das crianças só para auxiliá-la na
rotina da tarde/noite (já que o pai só chegava depois que as crianças já
estavam dormindo). Então eu começava as 5pm, ficava brincando com as crianças enquanto
a mãe preparava o jantar ou fazia coisas dela na casa, depois ajudava a dar o
jantar pras crianças, ajudava no banho e colocava as crianças pra dormir,
terminando por volta de 8:15pm. As crianças não eram tão pequenas, tinham 4 e 7
anos, então era ainda mais fácil porque eles eram bem independentes. Quando eu
ficava lá de bobeira ia ajudar a arrumar o quarto das crianças, a pendurar roupa
no varal, coisas simples só pra me manter ocupada. Fiquei lá por 1-2 meses, e
depois no ano seguinte quando a babá regular saiu de férias novamente cobri ela
mais uma vez. No terceiro ano a mãe me chamou de novo, mas eu já estava grávida
do Lucas e morando no Shire, bem mais longe e ficaria inviável o deslocamento,
daí indiquei outra menina pro meu lugar. Foi uma experiencia ótima, as crianças
eram uns amores e ficamos tão apegados mesmo em pouco tempo que me deu um dó
deixá-los...***************************
Uma coisa que
eu queria deixar claro com esse post sobre a minha experiencia é que aqui na
Austrália, diferente do que ocorre no Brasil, nenhum emprego é considerado
subemprego. Todos tem seu valor e um garçom vai receber o mesmo tratamento
cordial de um advogado. Inclusive existem muitos estudantes de curso superior
que trabalham nesses empregos durante a faculdade por conta dos horários flexíveis.
Um exemplo é uma advogada recém formada no meu escritório que enquanto fazia a
faculdade de direito e um estágio não remunerado de paralegal trabalhava de garçonete
num pub a noite. E isso mesmo a família dela sendo podre de rica! Humildade e
respeito ao próximo são características muito valorizadas por aqui e por causa
da não disparidade de salários vc vai encontrar num mesmo restaurante o
executivo de uma empresa e o barista/garçom/cleaner almoçando por lá.
Claro que tem
muitas nuances envolvidas nesses empregos, e muita gente com experiencias bem
variadas, mas em linhas gerais essas foram as minhas impressões e a minha
experiencia.