Outro curso que tive que fazer foi o de primeiros socorros. Na verdade o curso se chama “Apply First Aid”, que é o atual nome do curso de primeiros socorros básico.
O curso dura normalmente um dia todo (algumas empresas que dão esse curso fazem em 2 dias). O meu eu fiz com a Australia Wide First Aid, basicamente porque foi o mais barato que eu encontrei. rs Dependendo da empresa, esse curso pode custar entre $75-$150.
É um curso de primeiros socorros básicos, mas como eu nunca tinha feito nada parecido achei o máximo e super completo. Cobre mil assuntos, sendo que o dia é dividido mais ou menos assim: a parte da manhã para CPR (cardiopulmonary resuscitation) e a parte da tarde para primeiros socorros variados.
Não sei se alguém já fez curso de CPR (no Brasil eu nunca vi essa exigência, enquanto aqui todos os profissionais de saúde, de escolas/creches, lar de idosos, fisioterapeutas, policiais, seguranças, etc, tem que fazer), mas é mais difícil do que parece. No curso vc faz num boneco que reproduz a força que vc teria que usar numa situação real. Pra te ajudar a saber se vc está fazendo certo, o boneco faz um clic quando vc pressiona com a força necessária (o que eu rapidamente percebi que era bastante – já ouviram a frase “melhor quebrar a costela da vítima do que não fazer o CPR direito”? Pois é, tenso...). Em 2 minutos de CPR eu já estava suando... Imagino numa situação real, onde a rigor vc tem que fazer até o socorro chegar, o que pode demorar 30 minutos! Tudo bem que dizem que na hora, por conta da adrenalina, vc adquire mais força, eu sinceramente espero nunca ter que descobrir.
Curioso é que vc aprende não só a fazer CPR como a usar um desfibrilador (by the way, essa palavra é um completo trava língua pra mim em inglês – defibrillator – de tanto me enrolar já desisti e falo defib – seu apelido carinhoso... rs). E eu que achava que só profissional de saúde podia usar isso... Mas não, qualquer um com curso de primeiros socorros pode usar, e tem aparelho espalhado por tudo que é lugar (em academias, nas grandes estações de trem, nos estádios de futebol, etc). O desfibrilador em si é portátil e simples de usar, ele vai falando com vc e dando os comandos, inclusive o “afaste-se” pra hora da descarga elétrica. O problema é se vc não conseguir ouvi-lo... Como a história que me contaram no St John de um dia em que foram socorrer uma vítima num show de música e os paramédicos tiveram que fazer o CPR na beira do palco, sem que o cantor parasse o show, ou seja, com a musica tão alta que era impossível ouvir o aparelho desfibrilador.
Detalhe que pra vc receber o certificado tem que passar numa prova que eles dão no final. Tem tanto uma prova prática (de CPR) quanto uma múltipla escolha de primeiros socorros. Como todo curso desse tipo, é quase impossível vc ser reprovado. Na prova escrita se vc errar alguma questão o instrutor te explica de novo e manda vc refazer até acertar. Até porque eles já levam o certificado pronto pra te dar no final, então acho quase impossível alguém ser reprovado.
Ah, tem só mais um detalhe importante: segundo a instrutora que deu o curso, as leis sobre First Aid estão pra mudar esse ano, e com a mudança só vai receber o certificado quem fizer CPR por no mínimo 5 minutos ininterruptos, no chão. Parece fácil, mas não é, a forca que vc tem que usar é grande e o fato de ser no chão já exclui muita gente (na minha turma mesmo tiveram 2 mulheres que pediram pra fazer com o boneco em cima da mesa por conta de problema na coluna).
Agora o mais tenso é fazer o CPR em bebe... Tem um boneco pra isso no curso também, dá um nervoso danado... Fora as recomendações de que não pode assoprar muito forte na boca pra não estourar os pulmões. Recentemente teve um caso de CPR feito em bebe no meio da rua, nos EUA, as fotos rodaram o mundo. Quem não viu, esse é o link da matéria com as fotos.
Além do CPR, o curso engloba vários outros assuntos, como:
- ataques de asma: como usar uma bombinha para dilatação dos brônquios. Curiosidade: aqui essas bombinhas podem estar no kit de primeiros socorros, mesmo que a pessoa que está sofrendo o ataque não tenha/use uma.
- choque anafilático: como administrar uma EPI pen (aquelas canetas com adrenalina pro caso de reação alérgica grave). Fico impressionada como as crianças são alérgicas aqui! Outro dia saiu uma notícia de uma menina que teve uma reação alérgica porque estava brincando com outra criança que tinha comido pão com pasta de amendoim no almoço horas antes!
No curso contaram a história de uma creche em que uma menina ia sempre com sua canetinha de adrenalina por ter uma severa alergia. Aí um dia outra criança, um menino (que até então não se sabia ser alérgica) teve uma reação severa e no desespero a professora usou a caneta da menina no menininho, salvando a vida dele. Eis que alguns minutos depois a menina também teve uma crise, e já não se tinha mais a caneta, pelo que ela acabou morrendo. Claro que os pais processaram a creche, mas fico imaginando o que eu faria na situação da professora... Deixava o menino que teve a primeira crise morrer? Parece que em breve haverá uma lei obrigando as creches/escolas a terem canetas sobressalentes para emergências.
- como tratar cortes, hemorragias e amputações: dentre outros, não fazer torniquete no membro, não colocar membro amputado no gelo sem antes embalar num saco vedado, etc.
- como tratar picadas de cobras, aranhas, águas-vivas: e não, não é pra tentar tirar o veneno, e dependendo do bicho que picou tem instruções diferentes quanto a cobrir ou não, colocar algo como vinagre ou não, etc. Na prática eu sequer sei diferenciar uma aranha da outra, quanto mais me lembrar da orientação pra cada uma.
- queimaduras: não aplicar nada em cima, apenas água fria corrente por 20 minutos.
- 1001 formas de se fazer um torniquete (aqui chamado de sling).
E mais umas trocentas mil coisas que me deixam tensa só de pensar em um dia ter que usar na prática.
Eles falam também da "Good Samaritan Law” (http://en.wikipedia.org/wiki/Good_Samaritan_law), uma lei que protege o leigo que presta primeiros socorros contra processos por unintentional injury or wrongful death (tipo quebrar a costela de alguém ao praticar CPR). O wikipedia explica e compara a lei em diversos paises.
Esse curso tem validade de 3 anos (sendo 1 ano para CPR) e decorrido o prazo vc tem que refazê-lo. Parece bobagem e extorsão de dinheiro, mas na verdade é necessário para se atualizar nas constantes mudanças de diretrizes. Os procedimentos de CPR e como tratar hemorragia nasal, por exemplo, foram reformulados no ano passado e agora orientações diferentes são indicadas.
Resumo da ópera: bem interessante ter todo esse conhecimento, e acho que todo mundo devia fazer esse curso, mas eu espero sinceramente nunca ter que usar nada do que aprendi.
Nossa, interessantissimo, aí realmente está a anos luz a nossa frente, e para ficar ainda com mais vontade de ir para aí, hoje vi uma matéria que em moçambique existe 1 médico para cada 35 mil habitantes, e como se não bastasse, também vi uma notícia que após 2 ministros do STF se aposentarem, foi feita uma nova votação, e estes dois novos que entraram votaram a favor nela, e graças a isso o Genoíno condenado por corrupção e outros sai da prisão ainda esse ano :D
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