No post anterior eu falei sobre como funciona um plano de saúde privado. Hoje vou dar um exemplo prático com valores no caso de gravidez, que é uma pergunta que eu também andei recebendo por email.
Digamos que vc tem a cobertura que englobe a parte obstétrica e já tenha passado seu período de carência para gravidez. Aí o casal descobre a gravidez e a primeira decisão que tem que tomar é: vai ter o bebê pelo sistema público ou pelo privado? Eu escolhi o sistema privado por mil motivos que não vem ao caso pra esse post (mas vcs podem ler mais sobre o assunto na entrevista que dei pro blog Brazil Australia).
Escolhido o sistema privado, o passo a passo é o seguinte: vc escolhe o obstetra, que vai cobrar um valor que varia de $4.000 a 8.000 pra cuidar de toda a gravidez + parto. Além disso vc paga um valor por cada consulta com ele. No caso do meu obstetra essa consulta custava $100, dos quais o Medicare (sistema público do governo) reembolsava uns $70. Lembram que eu falei no outro post que o plano privado só cobre extras e a parte hospitalar? Pois é, via de regra tudo que o Medicare cobre o plano privado não vai cobrir. Então essa diferença vc vai ter que pagar do próprio bolso. Isso inclui esse valor de $4.000 a 8.000 que vc paga pro obstetra – o Medicare só reembolsa uns $450 (ou seja, facada no bolso).
Vc vai na primeira consulta com o obstetra (em torno da 7-8 semana de gravidez), ele faz sua ficha, te pesa, normalmente os obstetras tem uma máquina de ultrassom na sala e ele faz uma ultra simples pra ouvir o coração do bebê. Aí ele te passa um hemograma completo (que é coberto pelo Medicare) e o pedido pra ultra das 12 semanas que faz a checagem de síndrome de down e as primeiras medições do bebê. Essa ultra vc pode escolher onde fazer (não pode ser no consultório do obstetra porque o aparelho deles não é complexo o suficiente além do fato de que quem vai dar o laudo da ultra é um técnico especializado), e o preço varia muito de local pra local. Via de regra o Medicare cobre um valor base (não me lembro mais quanto, mas acho que em torno de $100) e o restante vc paga do próprio bolso. Vc pode ir num laboratório que faça bulk billing (cobre só o valor base do Medicare) ou ir em outro de sua preferência e pagar a diferença. No meu caso, como tive alguns probleminhas acabei optando por um laboratório mais caro porque queria uma precisão maior. Eu pagava em torno de $100 do próprio bolso por cada ultra até a quarta ultra, acho, porque a partir disso o laboratório começou a me cobrar bulk billing porque disseram que eu já tinha pago demais. rs
Aqui o normal no sistema privado são 3 ultras a gravidez toda: 2 diagnósticas com 12 e 20 semanas e outra no último trimestre (muitos médicos podem pular essa última). No meu caso, como eu disse, fiz pelo menos o dobro disso, além de exames de sangue e urina complementares (esses 2 últimos cobertos integralmente pelo Medicare).
Aí vcs perguntam: onde entra o plano privado que até agora não apareceu? Como eu expliquei no post anterior, o plano privado só vai cobrir a parte hospitalar. Se vc faz o acompanhamento da gravidez pelo sistema privado, vc normalmente tem o bebê num hospital privado (se bem que não sei como funciona se vc optar por um birth centre – chamado no Brasil de “casa de parto”).
Aqui um parêntesis: a maioria das mulheres que tem o bebê pelo sistema privado é porque querem cesária eletiva, já que no sistema público a regra é parto normal. Não foi o meu caso porque eu sempre quis parto normal, eu busquei o sistema privado só por conta da gravidez de risco.
Sendo o parto pelo sistema privado, normalmente no inicio do segundo trimestre de gravidez vc tem que preencher um cadastro no hospital privado que seu obstetra atua com a data prevista do parto. Esse hospital vai ser seu ponto de contato para qualquer emergência na gravidez. No meu caso eu fui 2 vezes no hospital, uma delas com risco de parto prematuro. Nenhuma dessas duas vezes paguei nem um centavo: a conta foi direto pro plano de saúde.
Chega o grande dia e é hora do bebê vir ao mundo. O casal vai pro hospital privado (tem que ligar antes pra avisar, by the way), tem o bebê da forma que for e pode ficar 4 noites (se for parto normal) ou 5 noites (se for cesária) num quarto privado na maior comodidade, sem pagar nada por isso. Os únicos gastos extras no parto são com o anestesista (o Medicare cobre uma parte e o restante vc recebe a conta depois em casa) e o pediatra que visita o bebê nos primeiros dias (again, o Medicare cobre uma parte e o restante vc recebe a conta depois em casa). Esses gastos não são cobertos pelo plano privado, mas todo o resto da internação é. No meu caso não tenho do que reclamar: o hospital onde tive o Lucas foi sensacional! A comida era maravilhosa, as enfermeiras muito prestativas, a consultora de amamentação (que dá uma aula a cada 2 dias na maternidade pros novos pais e ainda vai no seu quarto acompanhar e ver se tá tudo correndo bem) foi muito melhor do que eu esperava. Eu só pedi pra sair um dia antes porque não aguentava mais ficar confinada num quarto e queria ir pra minha casa.
Vale a pena então fazer o acompanhamento de gravidez/parto pelo sistema privado? Depende muito do que o casal quer:
1) Se quiser cesária eletiva: sim, melhor fazer pelo privado.
2) Se for gravidez de risco: pode fazer pelo público, mas eu já ouvi muita história de horror, pois o acompanhamento muitas vezes não é dos melhores nesses casos, então eu faria pelo privado.
3) Se for gravidez sem risco: pode escolher o público se vc quiser o acompanhamento mais caloroso das midwives ou o privado se vc quiser um acompanhamento mais técnico de um obstetra.
Minha opinião pessoal: todas as minhas amigas/conhecidas que tiveram pelo sistema público e tiveram algum tipo de complicação tem histórias de horror pra contar do parto e pós parto. Eu, na minha humilde opinião, acho que se vc tiver condição de pagar, é melhor fazer pelo sistema privado com o acompanhamento de um obstetra. Mas talvez essa minha visão seja também influenciada pela minha situação pessoal, pois a regra aqui costuma ser optar pelo sistema público, mesmo que o casal tenha plano privado.
Alguns detalhes pertinentes a esse assunto:
- No sistema público via de regra o quarto é coletivo, mas se vc tiver plano privado pode obter um upgrade para quarto privado e ter algumas outras opções que não sei muito bem porque não escolhi esse sistema, então é melhor vc consultar o seu plano. Não sei se existem hospitais públicos com quarto privado pra paciente sem plano privado, se alguém souber fique a vontade pra comentar.
- Mesmo vc fazendo o acompanhamento pelo sistema privado não garante que o obstetra que te acompanhou na gravidez será quem fará o parto. Aqui não é que nem no Brasil que os médicos ficam a disposição dos pacientes, dão telefone particular, trocam mensagem pelo whatsapp. Se vc tem uma emergência, liga pra clínica/hospital/maternidade, não pro médico. As enfermeiras da clínica/hospital/maternidade é que vão entrar em contato com o médico e ele pode tanto passar as instruções diretamente pra elas ou te ligar, dependendo do caso. Já no parto se for parto normal o obstetra te avisa que se cair no plantão dele ele faz o acompanhamento, senão ele passa pro obstetra que estará de plantão. No meu caso como foi parto induzido, meu obstetra marcou pro dia que ele estava de plantão então ele fez todo o acompanhamento no hospital. Mas na vez que fui pra emergência antes do parto quem me atendeu foi o obstetra de plantão, que trocava informação por telefone com o meu médico.
Lembrando que isso vale para todos os médicos, inclusive pediatra, pro terror das novas mamães acostumadas com o sistema personalizado do Brasil.
- Como eu já comentei em posts anteriores, via de regra aqui não se pedem tantos exames quanto no Brasil. Mas claro que cada caso é um caso e cada médico é um médico e o seu pode ser mais liberal nos pedidos de exame. O meu obstetra mesmo era super cauteloso e me pediu vários exames extras.
- Aqui um parênteses: nem todos os hospitais fazem parto de risco ou prematuro. Se vc estiver pelo sistema público e a gravidez for de risco (gravidez gemelar, mãe com diabetes, pressão alta, etc), vc vai ter que ir pra um hospital público específico. No privado eles normalmente fazem acompanhamento de gravidez de risco normalmente, mas no caso de parto prematuro só fazem a partir de 32 semanas. Se a mulher entrar em trabalho de parto antes disso, só tem 1 hospital em Sydney (isso mesmo, só 1!!) que faz o parto de 24 a 32 semanas de gravidez, que é o Royal Prince Alfred (RPA). Se não der tempo de ir pra lá e o bebê nascer em outro local, mãe e filho são transferidos para o RPA. Imagina então meu desespero quando baixei no hospital privado com 28 semanas de gravidez e a enfermeira me disse que eu estava entrando em trabalho de parto! Pânico total, mas no fim ela se equivocou e foi só alarme falso.
Agora imagina quem mora em uma cidade menor?? Em caso de parto de risco tem que transferir a grávida de avião pra cidade grande mais próxima. Medo!
Espero que tenha dado pra ter uma ideia mais clara de como funciona o sistema público/privado de saúde na Austrália. É muito diferente do Brasil, e eu até hoje peno um pouco pra me acostumar, mas tenho achado até melhor, sabe? Mais focado na prevenção, sem aquele bombardeio de remédios (pra bebê então, quando eu comparo o que o meu médico já receitou pro Lucas e o que vejo pediatras no Brasil receitando é um abismo de diferença), sem aquela bateria de exames desnecessários. Claro que é difícil de se acostumar em não ter o seu médico de prontidão 24 horas, ou poder buscar um especialista a seu bel prazer, mas isso nem me faz falta mais. Existem vários sistemas de atendimento de emergência sem ser os hospitais (o Triple 0, o home doctor, o Parent Line, e muitos outros), fora os os centros médicos que ficam abertos até mais tarde e nos fins de semana (o meu médico GP mesmo atende aos sábados e sem hora marcada).
É difícil se acostumar com o sistema daqui e achar um médico de confiança? Com certeza, me custou uns 3 anos, mas hoje já me sinto segura com uma rede de médicos que confio e tem o meu histórico por aqui. Agora acho estranho é quando vou no Brasil e levo o Lucas a um pediatra que o entope de remédio e me dá conselhos absurdos. Quem diria que eu que já tanto reclamei do sistema de saúde daqui agora até me sinta mais segura na terra do canguru. :)
Olá Thiago e Denise tudo bem ? Desculpe por enviar uma mensagem neste post.
ResponderExcluirEu e minha esposa somos Arquitetos e estamos pensando em ir para a Austrália para morar, gostaria de saber se é melhor fazer um curso de inglês para adiquirir o Ielts, e tentar trabalhar como um intern em um escritório de arquitetura para iniciar mesmo ou se é melhor tentar passar no AACA daqui do brasil para depois tentar algo ai ? Me desculpe pelo trabalho e se quiser podemos conversar por e-mail...abraços.... felipe_rauck@hotmail.com
Oi Felipe,
ExcluirPra qualquer coisa que vc vier fazer na Austrália, inglês bom é fundamental, então melhor começar um curso por aí. O Thiago fez aula particular, começou sem falar uma palavra em inglês e em menos de 1 ano conseguiu a nota mínima do IELTS. Não entendi sua opção de intern, acho praticamente impossível vc conseguir algo assim por aqui com visto de estudante. Certamente a melhor opção é vc fazer o processo pra obtenção do visto de residência daí do Brasil. O Thiago deu uma entrevista em outro blog esclarecendo sobre o reconhecimento da profissão no AACA, dá uma lida aqui: http://www.brazilaustralia.com/entrevista-como-ser-arquiteto-na-australia/
Tenha em mente que fizemos o processo há quase 4 anos, desde então muita coisa mudou, urbanismo saiu da lista de profissões gerais, o processo do visto de residência mudou (agora vc primeiro precisa de uma carta convite do governo australiano), enfim, vc precisa estudar bem as normas no site do AACA e da imigração (que o Thiago menciona na entrevista) ou então contratar um agente de imigração pra te ajudar.
Boa sorte!