quarta-feira, 17 de abril de 2013

Dificuldades com o inglês

A partir de um email que respondi hoje, me dei conta de como esse tópico é importante pra quem se muda pra Austrália (obrigada Renato pela idéia!).

Em primeiro lugar, tenho que destacar que falar sobre as dificuldades com o inglês é meio relativo, pois tudo vai depender da percepção de cada um. Conheço estrangeiro aqui que fala bem mal e não se incomoda com isso, desde que seja entendido. Já eu sou super critica e acho que meu inglês nunca vai ser bom o suficiente...

Pra dar parâmetros mais realistas, vamos lá: quando eu fiz o IELTS (o geral, não o acadêmico) antes de vir pra cá, tirei média 8 (sendo que a máxima é 9), sendo que no “listening” tirei a nota máxima. Com isso todo mundo me dizia que meu nível de inglês já era bem avançado. Não é que eu discorde, pra uma viagem de turismo estava mais do que bom, mas pra morar aqui a coisa era diferente...

Minha maior dificuldade no início era entender as pessoas no telefone. Discutir com fornecedores de serviços, então, era um suplício! E as entrevistas de emprego por telefone? Eu quase tinha um treco, não entendia metade, pegar o nome da pessoa e da empresa então era tarefa quase impossível. Não que meu inglês não fosse bom, mas no telefone tudo fica mais difícil e eu ainda ficava nervosa com a ligação, com receio de pedir pra pessoa repetir e soar estúpida, etc.

Aos poucos fui pegando mais confiança e posso compartilhar algumas dicas/percepções:

- no inicio é difícil pra todo mundo que não é “native speaker”, e isso tem muito a ver com seu nervosismo e a insegurança, tanto que é impressionante como depois de umas cervejas o inglês flui muito melhor... haha Autoconsciência das suas limitações é uma bosta, só faz vc se travar mais pra falar em outra língua. Nisso a prática ajuda e muito (se vc for desencanado e cara-de-pau, sorte a sua, vai se sair bem mais facilmente!).

- em entrevistas de emprego uma dica que me ajudou muito foi sempre no final da conversa perguntar: “I’m sorry, what is your name again? And you are from ___ (recruiter ou empresa), right?” Perguntar – e/ou confirmar – no final é mais fácil pois vc já está mais calmo depois da conversa. E não se preocupe pois isso é super normal e até os australianos fazem ao telefone. Ninguém vai te achar ruim no idioma por causa disso.

- no curso que fiz com dicas para arranjar emprego a professora dizia que o ideal (principalmente para imigrantes) é sempre que alguém te ligar dizer que vc está no transito e a ligação não está boa e pedir pra retornar em seguida. Isso te dá chance de ir pra um lugar mais calmo e/ou se preparar para a ligação, relembrando a vaga, a empresa e o que vc vai falar. Parece muito útil na teoria, mas eu nunca consegui aplicar. Quando me ligavam eu ficava tão ansiosa pra me sair bem que achava que pedir para ligar depois podia me fazer perder a oportunidade. Hoje penso diferente e acho que vale a pena sim, me lembro de algumas vagas que perdi nesse contato inicial no telefone simplesmente porque não sabia bem de que vaga se tratava e dei uma “roupagem” diferente pra minha experiência profissional, pra no final ouvir do recrutador que ele procurava um perfil diferente. Fora as vezes que atendi na rua, com barulho, e isso dificultava e muito entender a outra pessoa.

- um ponto importante é que qd não entendia algo, sempre achava que o problema era comigo, com o meu sotaque, mas depois de um tempo descobri que muitas vezes o problema é com o outro. Tem muita gente que mora aqui e também não é native speaker, e o sotaque de asiáticos, indianos e afins é muito mais carregado que o nosso. Ou seja, não leve sempre pro pessoal, o problema pode não ser com o seu inglês e sim com o do outro.

Um exemplo: tem uma advogada aqui no trabalho que eu tinha dificuldade de entender, pois ela fala muito rápido. Um dia quando estavam todos reunidos conversando descontraidamente, e eu entendendo apenas uns 70% do que ela falava (mas com vergonha de dizer algo), outro australiano presente pediu pra ela repetir o que falava mais devagar, pois ninguém estava entendendo. rs

- nos trabalhos que eu fiz em hospitality, eu sofria com o vocabulário especifico de utensílios de cozinha, alimentos, etc. O mesmo aconteceu qd comecei aqui no escritório. Mas isso melhora com o tempo.

- mesmo seu inglês sendo mais fluente, vc sempre terá “dias sim” e “dias não”. Tem semana que parece que eu regredi, as palavras não saem, erro aos montes, mal consigo manter um dialogo. Esqueço metade do meu vocabulário e quase tenho que recorrer a mímica pra explicar o que quero saber (como no dia que esqueci a palavra “dryer”, aquele que tem nos banheiros pra secar a mão, e fiquei falando pra uma advogada daqui “you know, that thing with hot air in the toilet” haha). Em tempo: as palavras "that thing", "this", "that", "get", "do", "make" sao a salvaçao, substituem quase tudo numa frase, desde verbos mais complexos até um vocabulário mais extenso. Tudo bem que vc vai soar quase como um analfabeto, mas ai já sao outros quinhentos... haha

Em outras semanas, como essa, sou capaz resolver o pepino de várias pessoas do escritório com a operadora de celular, discutir erros técnicos na conta e ainda conseguir $2.000 de desconto! Na semana que vem pode ser que o “Teco” volte a hibernar e o “Tico” fique sozinho novamente... rs

- me lembro que quando eu cheguei aqui o simples fato de pedir um café era um problema, eu tinha que repetir mil vezes que a outra pessoa não entendia. P. ex., eu só bebo “short black”, o nosso expresso brasileiro. Mas se eu pronunciasse todas as letras a outra parte não pescava. Até o dia que eu comecei a imitar os australianos e pedir pronunciando algo como “shorblec”: milagre milagroso, todo mundo passou a me entender. As vezes tudo é uma questão de vc pronunciar como eles estão acostumados a ouvir. Até hoje o Thiago fica p. da vida quando os atendentes não entendem o pedido dele para um “mocha” (outro tipo de café), ainda mais qd eles não entendem ele mas entendem quando eu peco. Falo pra ele mudar o gosto e pedir um “capuccino”, pois isso todo mundo entende. haha (tomara que ele não leia esse post...)

- por mais que meu inglês tenha melhorado, ainda sofro com piadas e sarcasmo. Os australianos são muito sarcásticos e falam bem sérios, então é duro pra quem é de fora saber quando eles estão brincando ou não. Isso já me rendeu vários vexames... Meu chefe, p.ex., vira-e-mexe fala algo sarcástico e há duas hipóteses: 1) eu não sei diferenciar se ele está falando sério ou não e opto por ficar calada; 2) quando diferencio, entendo e preparo a resposta, ele já está a quilômetros de distancia e pronto, perdi o timing. Ele deve me achar a pessoa mais sem senso de humor do planeta, ou então um bobo da corte, pois vivo dando umas risadinhas pra disfarçar. haha

- muitas pessoas quando falam com vc, sabendo que vc não é “native speaker”, vão naturalmente falar mais devagar ou maneirar nas gírias. Isso não é regra, mas acontece. O duro é quando vc tem que se enturmar num ambiente de trabalho onde vc é a única estrangeira... Se eu estou numa conversa 1x1 é tranqüilo, por outro lado expor suas idéias num grupo, no timing certo, é um desafio. No geral passo a reunião inteira mentalizando uma boa frase pra falar e no máximo consigo soltar um ou dois míseros bons comentários durante toda a conversa. haha

- pense que todo mundo (sim, todo mundo!) que vem de outro país passa por isso, em maior ou menor grau. Talvez isso te deixe mais reconfortado (não me ajudou, mas enfim, vai que serve pra alguém... haha)

- vc pode dar a sorte de ser contratado por uma empresa com muitos estrangeiros e isso ajuda bastante, pois todo mundo vai ter o mesmo problema que vc e se comunicar vai ficar mais fácil. Se vc, como eu, for trabalhar num escritório onde só tem australianos e americanos, bom, ai vc corre o risco de ser visto como o bobo da corte que não consegue dar uma resposta rápida e inteligente (meu caso). haha Tente compensar com trabalho árduo e competência, isso costuma ajudar!

Hoje, depois de pouco mais de 1 ano morando na Austrália, considero que entendo uns 99,9% do que as pessoas falam, mas mesmo assim as vezes tenho problemas com filmes com muitas gírias (Django foi bem difícil de pescar tudo), ou com pessoas com sotaques diferentes ou até jeito de falar diferente. Tem uma secretária australiana aqui no escritório, p.ex., que me custa entender o que ela fala. Um dia ela resolveu me ligar e falou uma parada que eu não entendi lhufas. Pedi pra ela repetir: nada. Pedi a segunda vez: nada de eu entender. No fim eu soltei um “yeah, I know” e fica por isso mesmo. haha As vezes fico pensando que ela deve me achar uma tapada, aliás muita gente deve achar...rs

Mas falando sério, eu acho que muito disso é devido a uma autocrítica muito forte. Porque o que escuto é que meu inglês é ótimo (se bem que quando vem acompanhado do fatídico “pra quem está na Austrália há 1 ano” fico sempre na duvida se foi realmente um elogio...rs), e nunca ouvi de recruiter ou empresas que meu nível de inglês seria um impeditivo pra conseguir a vaga, muito pelo contrário.

O fato é que por mais que seu inglês seja muito bom, vc sempre vai ser um estrangeiro, nunca vai conseguir pegar 100% o sotaque ou mesmo o background deles de cultura geral. Eu falo super rápido em português, e em inglês fico titubeando algumas vezes e isso é super frustrante. E também motivo de longas conversas filosóficas com outros amigos estrangeiros. No fundo acho que somos muito críticos, mas como não ser? Quando se vem pra cá como imigrante, pra construir uma vida aqui, tudo que vc quer é ser reconhecido como nativo. Esqueça, isso não vai acontecer, seus filhos nascidos aqui serão nativos, vc não. Mas isso não é necessariamente ruim, é o mesmo que uma pessoa do RJ que more em SP ser sempre visto como “o carioca” por causa do sotaque. Mas dá pra chegar num nível em que vc, apesar de não ser “native speaker”, seja considerado fluente pra todos os fins necessários.

Claro que todo mundo pode sempre melhorar, se aperfeiçoar, e um pouco de autocrítica não faz mal a ninguém. Mas tente relaxar e não se preocupar tanto com isso, o resto vem com o tempo e a prática.

O duro é quando vc começa a esquecer as palavras em português e seus amigos no Brasil acham que vc está ficando muito metido...



P.S.: Alguns empregos podem exigir menos do inglês que do outros. Certamente seu nível de inglês pra trabalhos casuais precisa ser menor do que quando vc quer trabalhar em escritório. A área também pode influenciar, se vc for, p.ex. da área de TI, como a oportunidade de emprego é maior (e mais bem remunerado, mas isso é assunto pra outro post...rs), talvez a exigência do nível de inglês seja menor (pelo menos é o que eu percebo de amigos que trabalham nessa area). Tenho que me lembrar de estudar TI na próxima encarnação, BTW (by the way, pra quem não conhece)... :-)

2 comentários:

  1. Hahahahaha é exatamente isso mesmo!

    Eu sempre pedia cappuccino e tive que repetir o pedido algumas vezes, nem adianta trocar o mocha (aliás, o mocha deles é bem melhor!)

    Agora a parte do telefone eu não superei ainda não, continuo não entendendo tudo, fico imaginando a cara que faço, porque páro até de respirar pro barulho do ar não atrapalhar hahaha

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  2. Adorei ler isso rsrrs
    Estive aí em Sydney e só pedia capuccino. Que alias é super delicioso.
    E me "virei" com meu inglês "nada a ver" ............
    Beijos.

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